Vinicius Soares Gallier e Carolina Brandt Carvalho

 

A INFLUÊNCIA DA ARÁBIA SAUDITA NO PREÇO DO PETRÓLEO: 1973 E HOJE


Introdução

O presente artigo tem por objetivo mostrar, de forma didática e expressiva, a influência da Arábia Saudita no mercado do petróleo, utilizando-se de uma comparação entre a crise do petróleo de 1973 e o mundo atual. Dessa forma, primeiro é feita uma explicação acerca do funcionamento geral do mercado do petróleo. Logo após, é feito uma contextualização e explicação acerca dos eventos relacionados ao período de criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo [OPEP] e também sobre a crise de 1973 em si, sempre deixando claro a importância e o papel da Arábia Saudita nesses eventos. No próximo momento é feito um salto para os tempos atuais, fazendo uma comparação com a época da crise, buscando entender as permanências e as mudanças na conjuntura da relação entre o mercado do petróleo e a Arábia Saudita.

 

O Mercado do Petróleo

O petróleo é a base energética do mundo atual, há décadas ele é usado para a manutenção de grandes indústrias ao redor do mundo, produzindo o diesel, a gasolina, o nafta e muitos outros produtos essenciais. No entanto, este é um recurso cada vez mais finito e, com isso, aqueles capazes de produzi-lo em grandes quantidades hoje são aqueles que determinam seu preço, principalmente porque o aumento da demanda ao longo dos anos devido ao desenvolvimento econômico ao redor do mundo tem sido uma constante. 

Esse mercado conta com produções em todos os cantos do globo, mas isso não quer dizer que todos são iguais. Existem, hoje, mais de 200 tipos de petróleo circulando, e eles são classificados de acordo com a sua densidade e Gravidade API, sendo diferenciados em três principais categorias: Leve, Intermediário e Pesado. [Mielnik, 2012, p.28] O padrão de qualidade, por sua vez, é baseado em dois tipos de petróleo, pelos quais todos os demais são medidos, o WTI [West Texas Intermediate, produzido nos EUA] e o Brent [Petróleo extraído na região do Mar do Norte]. A partir dessas classificações a base de preços de cada tipo de petróleo pode ser estabelecida, agregando um prêmio, ou um desconto, em seu valor de mercado.

Ao longo dos anos as maiores reservas de petróleo estiveram na região do Oriente Médio, principalmente nos territórios dominados pelos membros da OPEP, a Organização dos Países Produtores de Petróleo. De acordo com o departamento de Energia dos Estados Unidos [EIA, Energy Information Administration] estes países movimentam por volta de 60% de todo o petróleo mundial, o que demonstra o peso do grupo no mercado.

No entanto, também é necessário levar em conta que, nos dias atuais, largas reservas não são o suficiente para se manter no topo. A globalização e o avanço tecnológico são armas mortais na luta contra o controle exercido pela OPEP, cada vez mais outros países têm se colocado à frente e ressurgido como líderes do setor, principalmente os Estados Unidos - um dos maiores produtores e consumidores mundiais de petróleo - e outros, como o Brasil após a descoberta do pré-sal e a Rússia, além disso, também se tornaram empecilhos para o domínio da OPEP os problemas políticos e econômicos que surgiram na região após a Primavera Árabe, cujas consequências podem ser sentidas até hoje pelos países envolvidos, que se viram mergulhados em sanções econômicas, guerras e instabilidade política, como o Irã, Iraque, Líbia e muitos outros.

A Arábia Saudita, que durante anos foi vista como a líder de fato do grupo devido ao seu potencial de controle na oferta mundial, devido às maiores reservas de petróleo confirmadas no mundo, hoje passa por uma mudança em seu papel e, devido a isso, cada vez mais precisa se reposicionar conforme as mudanças do mercado. Suas reservas e capacidades de alteração de sua produção, hoje, não permanecem mais as mesmas, e os países que sempre precisaram do insumo, agora, possuem outras alternativas para sua compra. É claro que a Arábia Saudita não perdeu sua importância total - ou influência - no equilíbrio, mas os tempos de ouro não retornam mais, e a época em que a OPEP tinha capacidade para moldar completamente os preços a um nível mundial ficaram no passado.

 

As empresas, queda de preços e o surgimento da OPEP: O Antes

É necessário, ao falarmos da história de algo, entender o contexto anterior ao seu surgimento, e é o que vamos fazer, especificamente, nessa parte do texto. É importante ter em mente, antes de qualquer tipo de contextualização mais específica,  que, durante a segunda parte do século XX, o mundo se encontrava em um período de pós segunda guerra mundial e, além disso, no meio da ameaça constante da Guerra Fria. É importante frisar também que, durante esse período inicial pós segunda-guerra mundial, o preço era “quoted relative to that for oil in the Gulf of Mexico“ [Adelman, cap. 5, 1972 apud. Hamilton, 2011 p. 8].

Na década de 50, sobretudo nos seus anos finais, a indústria do petróleo já havia se desenvolvido em uma escala internacional e de forma massiva, e tinha importância fundamental tanto nos países produtores, por ser muitas vezes seu principal recurso, quanto para os países consumidores. 

Apesar do grande cenário do petróleo, grande parte estava nas mãos de oito empresas transnacionais apelidadas de “Sete Irmãs”. Esse domínio tinha como alicerces o fato delas possuírem “quase exclusivo acesso ao petróleo de baixo custo do Oriente Médio, Venezuela e Indonésia; (...) e por taxas e impostos mais favoráveis” [Tradução livre, Parra, 2004 p. 68], a entrada de dinheiro devido a esses elementos faziam com que quase ninguém conseguisse competir com eles de forma efetiva. Entretanto, essas empresas não eram simplesmente passivas: “Eles buscaram ativamente certos objetivos de políticas para favorecer um país [geralmente o Irã] em prol de outro, ou penalizar um [geralmente o Iraque] em favor dos outros, e então usaram o sistema para suprimir efeitos adversos nos preços.” Segundo Ian Skeet, os países produtores de petróleo “viam o sistema o qual as empresas usavam para operar como um exemplo obsoleto de dominação imperialista”. [Tradução livre, SKEET, 1988 p. 5].

Segundo Skeet [1988], para se entender o surgimento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo é preciso ter em mente os principais elementos referentes ao balanço do petróleo internacional no que tange a oferta e demanda. Utilizando os dados em relação ao ano de 1959, ano anterior a criação da organização, temos quatro pontos como principais: o fato da Venezuela ser o país isolado que mais produz petróleo fora dos Estados Unidos, o que provia o mercado mais próximo e natural para os membros da futura OPEP; o Oriente Médio já havia se desenvolvido como área produtora do hemisfério ocidental e já era um forte concorrente no comércio internacional; a União Soviética estava desenvolvendo sua indústria petrolífera, tanto para suas necessidades internas quanto para exportações e o fato de que os Estados Unidos serem os que consumiam e produziam a maior quantidade de petróleo bruto durante toda a década de 1950.

Além disso, segundo o autor, outro fator importante é a questão do preço, visto que o controle deste era de suma importância tanto para as companhias privadas, por serem um dos fatores para o lucro, quanto para os Estados, por serem um dos fatores para a formação da receita. Ao passo que as companhias foram perdendo poder de definir o preço do petróleo devido aos termos dos contratos de concessões que haviam feito no passado, isto foi se tornando um problema e, também, uma ferida no orgulho nacional, quando os preços diminuíram ao invés de aumentar. Quando isso aconteceu os efeitos sobre os países, principalmente os que dependem em grande parte do petróleo, foram debilitantes.

No final dos anos 50, com a demanda imensa de petróleo no cenário mundial e o fato de o Oriente Médio e Venezuela já terem se consolidado como cenários promissores e importantes, a competição por petróleo foi ficando cada vez mais intensa. Segundo Ian Skeet [1988], a diminuição do “Posted Price”, assim como as questões referentes aos royalties e de oferta e demanda, foram alguns dos fatores que desencadearam a criação da OPEP.

O cenário político e econômico dos países que viriam a fundar a OPEP [Venezuela, Iraque, Irã, Arábia Saudita e Kuwait] estava favorável a uma mudança, manifestada através da sua criação em 1960.

 

A Arábia Saudita e sua relação com a criação da OPEP

O começo do que se tornaria a OPEP teve início no 1º Congresso Árabe do Petróleo em 1959, no qual a Arábia Saudita desempenhou um papel de grande importância. Nesse congresso, Abdullah Tariki, que viria a se tornar o Primeiro Ministro do Petróleo da Arábia Saudita, teve uma grande participação e, junto a Juan Pablo Perez Alfonso, Ministro das Minas da Venezuela, expandiu a idéia de criar uma Comissão de Consultas de Petróleo aos outros representantes dos países que estavam presentes. Essa comissão teria por objetivo se encontrar uma vez ao ano para decidir acerca dos problemas que deveriam encarar, de forma pré-estabelecida e, assim, como proceder nessas situações. 

Segundo Skeet [1988], não havia um acordo concreto em relação a redução da produção entre a Venezuela e os países árabes, apesar de todos seguirem na mesma direção. E, de início, esse pacto não foi anunciado de forma pública, vindo a conhecimento somente em 1960. 

Quem tomou a frente na formação e ao estabelecer os princípios da OPEP, em grande parte, foram Perez Alfonso, da Venezuela e Abdullah Tariki, da Arábia Saudita. Além disso, o embaixador da recém-criada embaixada da Venezuela no Cairo, também tendo sido credenciado pela Arábia Saudita, organizou a primeira reunião da OPEP em 1960.

 

A crise do petróleo de 1973

Para contextualizar a época, é preciso entender que esse período imediatamente anterior tinha como característica o crescente consumo de petróleo pelos países industrializados, assim como o aumento das importações de petróleo pelos EUA, em contraste com a diminuição da sua produção interna. Dessa forma, precisava-se de um local para substituir a produção que antes os Estados Unidos fazia. Em outras palavras: o mercado começou a se basear no petróleo do golfo pérsico para estabelecer as quotas de preços.

No dia 6 de outubro de 1973, Síria e Egito realizaram um ataque conjunto, com o objetivo de recuperar os territórios tomados por Israel, iniciando a quarta guerra árabe-israelense, mais comumente chamada de guerra do Yom Kippur  — devido ao seu primeiro ataque ter sido feito durante um dia importante para o judaísmo: o dia do perdão - o maior feriado judeu.

É necessário aqui retomar o que foi dito no início: esse era um período no meio da Guerra Fria e, como tal, as principais potências da época, os EUA e a URSS, costumavam tomar lados nos conflitos, usualmente opostos. No caso, os EUA protegeram os interesses de Israel, o que gerou consequências. 

No dia 17 de outubro de 1973, após a vitória de Israel, a OPEP realizou um embargo a todos os países que haviam prestado apoio a seu adversário, seguido por diversos cortes na sua produção do petróleo. Ou seja, com a diminuição da oferta de petróleo, visto o poder que o insumo tinha no cenário mundial e nos EUA, provocou um aumento exorbitante dos preços no mundo inteiro, mas de forma ainda mais impactante nos Estados Unidos e nos aliados de Israel. O preço subiu de cerca de 3 dólares para 11,65 dólares por barril de petróleo, houve praticamente uma quadruplicação e o embargo causou uma recessão mundial.

 

A importância da Arábia Saudita na OPEP e na crise do petróleo de 1973

Até pouco antes da guerra do Yom Kippur, o rei da Arábia Saudita, Faisal bin Abdulaziz Al Saud, tinha como ideal não utilizar o petróleo como uma arma política. Entretanto, isso viria a mudar mais a frente, sendo o primeiro sinal disso o alerta de Faisal que, caso os EUA continuassem a ajudar Israel, a colaboração entre Arábia Saudita e a potência ocidental poderia se complicar. Esse alerta era, principalmente, com o objetivo de pressionar os Estados Unidos a negociar uma solução política para o causa Palestina.

Inicialmente, durante os primeiros aumentos do preço do petróleo por parte da OPEP, a Arábia Saudita se manteve calma, uma das “vozes moderadas” na discussão, com o objetivo de não inflar os outros países para que houvesse um aumento ainda mais significativo. Faisal esperava que, ao se manter neste papel, conseguisse continuar com as boas relações com os Estados Unidos, apesar de, ao mesmo tempo, conforme as tensões com Israel aumentavam, o rei continuamente ameaçava diminuir o suprimento de petróleo caso uma guerra estourasse

Quando isto finalmente aconteceu a partir de um ataque conjunto da Síria e do Egito, o Secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, pediu a Faisal para que os convencessem a recuar. Entretanto, “Faisal [...] fez público seu apoio aos dois países e chamou Henry Kissinger a persuadir Israel a deixar os territórios ocupados.” [Tradução livre, Wynbrandt, 2004 p. 232]. No mesmo mês, a OPEP resolveu diminuir a produção e aumentar os preços até que o conflito árabe-israelense tivesse fim.

Logo após a ajuda do presidente americano Nixon a Israel, através do envio de armamentos para o conflito, a Arábia Saudita promoveu um embargo contra os EUA, inicialmente de forma unilateral, tendo sido depois apoiada e consolidada pela realização do embargo também por outros países árabes.

 

Petróleo e a Arábia Saudita: O Hoje

A crise desencadeada em 1973 afetou profundamente o mundo e a Arábia Saudita, como o maior produtor de petróleo na organização, teve um papel fundamental nessa decisão. Mesmo que o embargo tenha sido adotado apenas pelos membros árabes da organização, o mundo se viu refém das drásticas consequências dessa decisão no preço final, que durou longos e devastadores 5 meses para encontrar seu fim, em março de 1974 com o término do confronto. 

No entanto, como explicado no início, outras fontes de petróleo foram sendo descobertas ao longo dos anos e, aliado ao avanço tecnológico, a importância da Arábia Saudita, que antes era tão importante devido ao seu alto potencial de elasticidade da produção, que podia ser adaptada mais facilmente aos seus interesses do que em outros países com reservas menores, foi diminuindo.

Nas décadas de 1970 e 80 era um fato que a OPEP em geral era a instituição que determinava os preços do mercado mundial de petróleo bruto, mas o mesmo não pode ser dito sobre os tempos atuais. Outros atores internacionais ao redor do mundo e, mais importante, não membros da organização, influenciam o mercado internacional, como a New York Mercantile Exchange [NYMEX], the International Petroleum Exchange in London [IPE] e the Singapore International Monetary Exchange [SIMEX] [Basil, 2011, p.10], para nomear alguns, além dos tomadores de decisões estatais nos países que hoje são produtores chaves no mercado.

Precisamos lembrar também que, de acordo com Fattouh e Sen [2015], outros fatores externos também influenciam a determinação das políticas petrolíferas da Arábia Saudita em relação à organização e ao mercado mundial, e não apenas uma visão geral de ocidente versus Oriente Médio, com este último capaz de manter a necessidade energética do primeiro como uma arma a ser constantemente utilizada. Existe, primeiramente, uma alta dependência econômica deste setor na arrecadação geral da Arábia Saudita; sua caminhada para a exaustão de suas reservas prevista, em 2015, para durarem ainda 63 anos leva o país a ter sempre em vista a manutenção da demanda a longo prazo; sua dominância em mercados internacionais, já que sua produção é capaz de gerar petróleo de praticamente todas as classificações, é, por isso, traduzida em assegurar seu market share dentro dos países ocidentais.

Um rápido aumento da demanda interna do país levou com que o preço da adaptação de sua produção, antes tão elástica, passasse a ser maior, já que uma mudança na quantidade produzida poderia rapidamente atrapalhar o próprio desenvolvimento interno do país, que passa a consumir mais - o que leva a Arábia Saudita a aumentar a sua extração e produção petroleira, para manter os níveis elevados de consumo interno e não perturbar as quotas exportadas para o resto do mundo. Como demonstrado, isso também afeta o principal fator que leva a Arábia Saudita a ser um Estado tão significante no mercado mundial e dentro da própria OPEP, já que sua capacidade de adaptação da sua produção para controlar os preços - tanto para a estabilização do mercado quanto para gerar uma nova crise mundial - vem se tornando cada vez menor e, apesar de permanecer com uma capacidade considerável, não pode mais se dar ao luxo de manter mais sua produção em níveis muito baixos ou muito elevados por longos períodos de tempo sem que todos os demais fatores levem a prejuízos para o reino, já que seus parceiros árabes são dependentes deste comércio e, pelo desenrolar da política regional nos últimos anos, não têm capacidade para passarem por mudanças drásticas nos preços, principalmente os países que não são grandes produtores.

Tendo em vista o exposto acima, podemos perceber que, hoje, os tempos mudaram. O mercado mundial de petróleo não é mais o mesmo que foi na década de 1970, e os atores que têm a capacidade de influenciá-lo se diversificaram para abarcar diversas áreas do mundo, retirando das mãos da Arábia Saudita e da OPEP o controle total sobre os preços internacionais do barril. Diversos fatores externos característicos da atualidade, principalmente o avanço tecnológico, também permitiram essa mudança. Ainda, apesar deste país ainda ser uma peça chave para a manutenção do equilíbrio dos preços, é um motivo de orgulho do Estado que, desde então, a sua produção é determinada exclusivamente de acordo com objetivos econômicos e de forma racional, eliminando a pressão exercida como ferramenta política e, conforme os anos passam, a possibilidade de uma repetição dos acontecimentos das décadas de 70 e 80 parece uma realidade cada vez mais longínqua e improvável.

 

Referências

Carolina Brandt Carvalho é aluna de graduação no curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense.

Vinícius Soares Gallier é aluno de graduação no curso de História da Universidade Federal Fluminense.

BASIL, Ajith. “OPEC & its influence on Price of Oil”, 2011. Disponível em: https://www.greatlakes.edu.in/gurgaon/sites/default/files/OPEC&its_Influence_on_the_Price_of_Oil_Ajit_Basil.pdf

CITINO, N. J. “From Arab Nationalism to OPEC Eisenhower, King Saud, and the Making of U.S. - Saudi Relations” [Indiana Series in Middle East Studies] 2. ed. Indiana University Press. 2011

Energy Information administration: Energy & Financial Markets - What Drives Crude Oil Prices?, 2020. Disponível em: https://www.eia.gov/finance/markets/crudeoil/supply-opec.php

FATTOUH, Bassam; SEN, Anupama. “Saudi Arabia Oil Policy: More than Meets the Eye?” in: Oxford Institute for Energy Studies, vol. 13, Jun, 2015, 27 p.

HAMILTON, J.D. “Historical oil shocks.” 2011 Disponível em: https://www.nber.org/papers/w16790.pdf

ILIE, Livia. “Economic considerations regarding the first oil shock”, 1973 - 1974. 2006. Disponivel em: https://mpra.ub.uni-muenchen.de/6431/1/MPRA_paper_6431.pdf

MIELNIK, O. “O mercado do petróleo: oferta, refino e preço”. Rio de Janeiro: Revista FGV, 2012

PARRA, Francisco. “Oil Politics: A modern history of petroleum”. Londres: I. B. Taurus. 2004

SEYMOUR, I. “OPEC - Instrument of Change”. Palgrave Macmillan.

SKEET, Ian. “Opec: Twenty-five years of price and politics”. Cambridge: Cambridge University Press. 1988.

WYNBRANDT, James. “A Brief History of Saudi Arabia”. Ed 2. Fawas A. Gerges, 2004. 

 

7 comentários:

  1. Bom dia, gostaria de Primeiramente parabenizá-los pelo excelente trabalho. Gostaria de perguntar se durante a pesquisa sobre a criação da OPEP, como se estabeleceram as relações entre a Venezuela e a Arábia Saudita, países tão distantes geograficamente e culturalmente, mas que passaram a cooperar economicamente?
    Luana de Oliveira Matias

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    1. Muito obrigado, Luana!
      Agradeço pela pergunta, visto que não tive como me alongar nessa parte específica do artigo devido ao limite proposto.

      Como sempre em História, temos que voltar um pouco para compreender melhor haha.

      Primeiramente, é importante entender que o petróleo e sua indústria possuem uma grande importância para a economia da Venezuela durante longos bons anos.

      Quanto ao contexto anterior à criação, o ponto principal é que os preços de mercado do petróleo (o que as partes estariam dispostas a pagar pela commodity) estavam em baixa e diminuindo. Por que isso aconteceu?

      Na época havia um crescimento e uma demanda pré existente de petróleo imensa, mas a oferta era ainda maior e crescia ainda mais, visto que "os países produtores tentavam ganhar receitas melhores aumentando o volume vendido ao invés de aumentar os preços" [Tradução livre, YERGIN, p 514].
      Com uma oferta maior que a demanda, a tendência do preço era cair.

      Além disso, segundo Daniel Yergin, houve um caso a parte ao falarmos da Venezuela: em 1959, os Estados Unidos, principal destino (cerca de 40%) do petróleo venezuelano, colocou cotas para petróleo estrangeiro, com a declaração (e intuito) de proteger os produtores nacionais. Entretanto, colocaram uma exceção a essas cotas para petróleo vindo por terra — acabando por privilegiar Canadá e México — com o argumento de que por terra seria menos perigoso, visto que não poderia ser interceptado por submarinos inimigos.

      Para os venezuelanos, isso foi apenas uma "desculpa" e que o real motivo "seria para diminuir os atritos com o México e o Canadá" [Tradução livre, YERGIN, p 513] e, logicamente, ficaram consternados porque os afetava de forma extremamente negativa.

      Junto a isso, os países produtores do Oriente Médio também sentiram o peso dessas cotas. Veja bem: com as cotas de importação, a demanda pelo petróleo desses países diminuiu, sendo que a oferta continuava alta e em pleno aumento. Com isso, houve um abalo no mercado de todos esses países.

      Fora todos esses pontos, ainda havia a reentrada da União Soviética nesse mercado. Ou seja, ainda mais oferta numa demanda menor que anteriormente.

      Nesse caso, a forma encontrada pelas companhias de petróleo para que pudessem manter os russos ao longe foi cortar ainda mais os preços. Entretanto, se cortassem somente o valor de mercado elas iriam ser as mais afetadas por esse corte.

      O que fizeram? A British Petroleum (BP) foi a primeira: resolveram diminuir o "Posted Price" para poderem diminuir o prejuízo e, assim, "dividi-lo" com os países produtores. E isso enfureceu tanto Abdullah Tariki, da Arábia Saudita, quanto Juan Pablo Pérez, da Venezuela, que também já estava consternado devido ao problema tido com os Estados Unidos.

      Ambos os países tinham motivos para cooperar, visto a grande quantidade de petróleo que possuíam, e também para quererem combater tais práticas que, como aconteceu, viriam a criar uma comissão para defender a "estrutura do preço", além de estabelecer companhias nacionais de petróleo (importante: inicialmente, por o Iraque estar boicotando a reunião de Cairo, este acordo não era oficial mas que seria um "caminho comum" de "recomendações" aos governos). Apesar de ter sido um acordo informal, este foi o primeiro passo para o surgimento do que viria a ser a OPEP.

      Vinicius Soares Gallier

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  2. Parabéns pelo texto! Excelente trabalho, muito bem formulado =)
    Lendo o texto de vocês eu fiquei com uma curiosidade parecida com a da Luana. Gostaria de saber a opinião de vocês sobre - se essa crise do petróleo em 1973 afetou o Brasil e se sim, de que forma? E se há alguma relação do Brasil com a Arábia Saudita no que diz respeito ao petróleo.

    Ass: Virgine Borges

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    1. Obrigada pela parabenização, Virgine!.

      Quanto a pergunta: a crise de 1973 afetou sim, de forma imensa, o Brasil.

      Vou explicitar isso logo mais.

      O Brasil, inserido no chamado "Milagre Econômico" do periodo da Ditadura Militar, sofreu um baque devido a sua dependência de importação de petróleo estrangeiro.

      Os impactos da crise de 1973 foi imensa em vários seguimentos nacionais. Devido a necessidade de delimitação, vou me atentar a explicar e exemplificar os impactos ocorridos especificamente na economia brasileira da época.

      Para começar a explicação, irei falar sobre o contexto do "milagre econômico".

      "O boom econômico de 1968 teve como causa básica uma politica de expansão de crédito em uma economia ainda com reflexos da recessão que aconteceu entre os anos de 1964 e 1967, aliada a um aumento da demanda interna por bens duráveis, um aumento também na demanda externa e um acréscimo na entrada de capital externo no brasil" [SINGER, 1977 apud TEIXEIRA, 2015]


      "[...] neste período [1968-73] deu-se um forte processo de estrangeirização da
      economia brasileira. A consolidação do regime após 1967 já era um fato e a
      estabilidade política, unida com os interesses do capital estrangeiro, acelerou a
      entrada do capital de risco no país. Em 1969, ela alcançou um total de 200 milhões de dólares, nível muito superior ao influxo que seu no final dos anos 50. Em 1972, esta cifra chegou aos 300 milhões de dólares, e voltou a aumentar no ano seguinte em 200% ." (BAER, 1986, p. 88 apud TEIXEIRA, 2015)

      "O aumento da formação de capital foi influenciado pela politica do Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI). Tal política baseava-se na concessão de incentivos fiscais e creditícios para aquisições de máquinas e equipamentos, tanto pelo setor público quanto pelo setor privado" (TEIXEIRA, 2015)

      Houve também um aumento da participação dos empréstimos privados na divida pública externa, sendo um dos motivos para o aumento da dívida externa brasileira.

      Com isto em mente, vamos falar do choque do petroleo de 1973.

      Com o aumento de preço do barril de petroleo, o Brasil, assim como grande partes dos países em desenvolvimento, se viu aturdido. Entretanto, também teve algo a mais: havia um aumento da oferta de crédito no exterior, com taxas de juros baixas., no inicio, mas que foram aumentados depois da crise. (Guarde essa informação)

      O aumento do preço do petróleo fez com que o saldo da balança comercial brasileira entrasse em déficit nos anos seguintes a 1973.
      (devido a diminuição das exportações, que antes estavam a todo vapor, e um aumento no valor das importações devido ao aumento do barril do petróleo)

      No cenário financeiro, Geisel resolveu seguir pelo caminho do crescimento com endividamento.

      No periodo já com juros aumentados, Geisel tomou empréstimos no exterior e, em quatro anos, quase quadriplicou a sua divida bruta externa.

      Como pude traçar, em parte e de forma isolada aqui, a crise de 1973 foi responsável por quadruplicar a divida externa brasileira no periodo. Além de ser uma das responsaveis, em parte, pela alta inflacionária respectiva a essa época e posterior.


      Para esse tema, caso queira saber de forma mais aprofundada, recomendo a leitura da Tese de Conclusão de Curso de Pollyana Ramos Teixeira, que se encontra nesse link: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/158484

      Carolina Brandt Carvalho

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  4. boa noite parabens aos autores pelo texto. no ultimo topico do texto vejo uma afirmação na qual se diz que a Arábia não esta mais com a mesma influencia sobre o mercado de petroleo porém deixo a seguinte duvida, se o confronto que provocou a crise do petroleo na Arábia ja chegou ao fim por que este grande produtor nao volta a lidera a produçao deste minerio e assim controlar os preços.

    Jorge José De Lira

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    1. Obrigado! De fato, a Arábia Saudita permanece até hoje um dos grandes produtores de petróleo do mundo, mas existem muitos outros fatores a serem considerados além da maximização total de lucros. As decisões do país em relação asua capacidade produtora precisa manter o fino balanço que permite a estabilização do mercado de petróleo atual, porque ela pode ser um dos maiores produtores, mas há muito não é mais a única.

      É um motivo de orgulho para a Arábia Saudita manter as decisões de políticas petrolíferas de suas empresas de forma separada dos seus demais interesses políticos, para que a tomada de decisão seja de um ponto de vista econômico e de negócios. - podemos falar que ela tem levado seus negócios puramente nesse ponto de vista? Provavelmente não, mas a Arábia Saudita não tem interesse em perturbar o mercado internacional, e tem inclusive assumido o papel de “controlador” dos demais países da organização, punindo-os quando ultrapassam em muito suas cotas de produção.

      No final das contas, é um país altamente dependente do dinheiro trazido por esse mercado, que precisa sempre pensar em decisões que levarão a consequências de longo prazo (já que possuem uma reserva grande de petróleo, que os manterão no mercado ainda por muitas décadas), fora o custo e perda necessário para manipular os preços, já que não são o único país no jogo - inundar o mercado de petróleo e fazer o preço cair por longos períodos de tempo não ajuda ninguém, e poderia inclusive danificar irreparavelmente diversas economias de países membros da OPEP que dependem do negócio… Lembrando sempre que, hoje, os EUA é um dos maiores produtores do mundo, e ele tem uma capacidade de aguentar prejuízos muito maior que a Arábia Saudita em caso de queda dos preços - ou em caso de ser necessário um investimento para aumento da produção -, mesmo que suas reservas não sejam maiores

      Existem ainda diversos outros fatores que contribuem para “impedir” a Arábia Saudita de manipular o mercado como em 1973 e 1980, e você pode entender mais sobre esses fatores acessando (está em inglês): https://www.oxfordenergy.org/wpcms/wp-content/uploads/2015/06/MEP-13.pdf

      Carolina Brandt Carvalho

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