A CERVEJA, A PROSTITUTA E A DEUSA: ENCONTROS NA TABERNA DA ANTIGA MESOPOTÂMIA
Na Antiga Mesopotâmia, sexo e bebida encontram-se tanto na esfera do sagrado quanto do profano. Ligada ao mundo dos deuses, por meio de libações, rituais e até mesmo no seu processo de produção, a cerveja fez parte durante muito tempo, exclusivamente, do universo feminino, visto que eram as mulheres que exerciam a profissão de cervejeira dentro da sociedade.
Esse processo de produção feminino era orientado pela deusa da cerveja, Ninkasi, mas com o passar do tempo foi se transformado em uma atividade masculina, principalmente a partir o período de Ur III [2112-2004 AEC], quando os homens se especializaram na fabricação externa da cerveja.
Também eram as mulheres que gerenciavam a taberna, em muitos casos não apenas a taberna enquanto lugar de bebida e alegria [bīt sābīti, literalmente “casa da taberneira”, em acádio], como também aquele da pousada [aštammu/eŝtemme], a taberneira fornecia “comida, bebida e às vezes uma cama para dormir” [VOLKONEN, 2014, p. 19].
Como lugar de encontro, recebia pessoas de diversos segmentos sociais e gêneros. Assim, prostitutas, sacerdotisas, mulheres de estatuto sexual livre ou compromissadas, travestis, homoafetivos e homens de muitas estirpes, frequentavam esse local, a taberna apresentava-se como espaço de trânsito e tramas que se entrecruzavam nas ruas e ruelas das cidades mesopotâmicas.
Como espaço impreciso do público e do privado, ocorreram em alguns momentos, tentativas de sansões e regras aplicadas tanto a sua clientela quanto aqueles que a gerenciavam. No tempo de Hamurapi [1792-1750 AEC], por exemplo, houve proibições das mulheres “direitas”, principalmente as consagradas a alguma divindade, de frequentarem e serem proprietárias de tabernas [STOL, 2016, p. 365].
Martin Stol [2016] acredita que a justificativa de pena capital para quem fraudasse tal lei se refere à quebra de tabu religioso, não a questões econômicas. No entanto, tal lei, não se refere às sacerdotisas e devotas da deusa Inanna/Ištar, visto que seria estranho que estas não pudessem estar em um local que sua divindade esteve relacionada.
Inanna foi a divindade mais influente das culturas mesopotâmicas. Sua personalidade multifacetada a permitia transitar por diversas esferas e influenciar inumeráveis aspectos da vida dos habitantes do Kalam [como os mesopotâmicos denominavam seu território]. Esteve voltada às questões do cotidiano, relações carnais, assuntos bélicos e jurídicos, deusa do amor e da guerra como ficou conhecida pelos historiadores clássicos, essa divindade submeteu reis e deuses à sua vontade.
Ela também pode ser apresentada como a mais amada entre as divindades, ao mesmo tempo em que é caracterizada como mais complexa que os demais deuses do panteão mesopotâmico, uma vez que ao contrário de seus pares, não tinha uma esfera de atuação fechada como, por exemplo, Ereshkigal, voltada apenas ao mundo dos mortos ou Enki relacionado à sabedoria e aos conselhos.
Entre
os espaços ocupados, apropriados e frequentados pela divindade, encontramos a
taberna, com a qual ela possui relações estreitas. É na taberna também, mas não
somente nela, que percebemos sua aproximação com a prostituta, a qual buscava
clientes nesse local e que encontrava respaldo de seu ofício e proteção junto a
essa deusa.
Quando a deusa
frequenta tabernas, a prostituta não anda só.
O eminente assiriólogo, Thorkild Jacobsen relacionou o aspecto erótico de Inanna a sua personificação como estrela do entardecer, pois à noite, “depois do trabalho, mas antes do repouso, é o momento de brincar e dançar” [JACOBSEN, 1976, p. 139]. Seria o momento em que a prostituta, assim como a estrela do Entardecer, saiam para a rua, buscando por relações sexuais. O entardecer era visto, dessa forma, como o horário dos amantes, do prazer oculto nas sombras dos becos, das tabernas e da câmara do casal. O autor acredita que essa seria uma característica da noite:
“o da meretriz que sai para pegar os clientes entre as pessoas que voltavam do trabalho no campo, e talvez porque fosse uma visão comum ver a prostituta aparecer com a estrela da noite haveria um vínculo entre elas” [JACOBSEN, 1976, p. 140]. Ainda, segundo ele, “a deusa seria a protetora da meretriz, bem como, a da cervejaria na qual ela trabalhava” [JACOBSEN, 1976, p. 140].
Thorkild Jacobsen vai além ao colocar que a estrela da noite em si seria uma meretriz solicitando nos céus e que esse poder empossaria as prostitutas, chamadas por ele de irmãs de Inanna na terra, o que as tornaria encarnações da deusa, em busca de seu esposo Dumuzi [JACOBSEN, 1976, p. 140]. No entanto, precisamos lembrar que embora, desposada por Dumuzi, Inanna nunca foi uma esposa no sentido tradicional, aquele de mãe e dona de casa obediente, em algumas fontes ela deixa o marido em busca de aventuras nas ruas de Kulaba, em outras sai a requisitar amantes.
A prostituta e Inanna tinham, dessa forma, vínculos e características comuns, além de um locus privilegiado de encontro: a taberna. Em relação às meretrizes, os estudos de Julia Assante [1998], nos informam que ao contrário das jovens mesopotâmicas que não saiam de casa desacompanhada, a prostituta caminhava sozinha, sentava-se na porta da taberna a espera de parceiros, usava símbolos que a denunciavam a sua atuação.
Como profissional do sexo, a prostituta precisava se destacar das outras mulheres que andavam pelas ruas da cidade, como irmãs de Inanna, precisavam usar símbolos que denunciassem sua profissão e as relacionasse a sua deusa de devoção. Uma canção extensa para Inanna, por exemplo, aponta que a prostituta além do colar característico [feito de conchas que representavam os órgãos femininos e de modelos de pênis balançando nas laterais], usavam fitas coloridas nos cabelos, que a própria deusa havia colocado [ETCSL, t.2.5.3.1, linhas 45-8].
Segundo Marten Stol [2016], esses colares, os quais as prostitutas usavam, foram encontrados nas escavações holandesas na Síria e reconstruídos pelos especialistas, o que nos permite concluir que tais artefatos e insígnias serviam para destacar as prostitutas das mulheres comuns e das sacerdotisas.
Como devotas de Inanna, as prostitutas eram aquelas que conheciam as formas de dar prazer, que cobravam por suas carícias, e cujos favores demandavam uma experiência tipicamente carnal. Inanna era aquela que conhecia os prazeres da carne, que exigia seu tributo em relação a eles, que protegia as relações amorosas dentro e fora do casamento, que se aventurava pelas ruas, tabernas e ainda assim era cultuada nos templos e lares.
Ao abrigar a deusa e suas servas, a taberna assume a função de templo, ou ao menos do local onde o sagrado não tinha limites precisos com o mundano. Para os mesopotâmicos a taberna também era o espaço do sagrado, do encontro com a deusa da cerveja e a deusa das práticas sexuais, onde era possível praticar a magia simpática e os sortilégios corriam soltos como a cerveja.
De fato, a taberna aparece como o locus privilegiado da magia, como apontou Stol, “alguns rituais mágicos exigiam que o material contaminado fosse depositado dentro ou na porta de uma taverna, e outros rituais dizem como um demônio deve ser moldado e o modelo colocado sob um barril de cerveja virado” [STOL, 2016, p. 365].
Essa perspectiva da taberna como espaço sagrado, pode ser confirmada no mito Inanna e Enki, onde a deusa recebeu dentre os MEs, aquele da taberna sagrada, além daqueles voltados às práticas sexuais. A disposição como a deusa coloca tais “presentes”, nos fornecem a ideia de que a taberna seria um lugar idealizado para o prazer: “Ele me deu a arte de fazer amor/ Ele me deu a arte de beijar o falo./Ele me deu a arte da prostituição./Ele me deu a prostituta de culto./ Ele me deu a taverna sagrada” [ETCSL, t.1.3.1, linhas 35-46].
As Medidas Sagradas [MEs], dizem respeito aos aspectos da vida cotidiana, as produções culturais e materiais, elas marcam aquilo que os povos mesopotâmicos entendiam por civilização e conhecimento. Não é de se estranhar, que entre eles, encontramos profissões e trabalhos em materiais, que atestam a evolução tecnológica e do pensamento humano, além de aspectos como a guerra, os diversos tipos de sacerdócio, as artes, as relações sexuais, formas de ser e agir.
A taberna foi citada entre os MEs, assim, como as práticas que encontram lugar nesse espaço, e todos eles foram dados a Inanna por Enki, durante o porre de cerveja e desejos, com os quais ela enganou o mais sábio dos deuses. Kia Volkonen aponta que:
“O
templo de Ištar em Girsu era conhecido como a “taberna sagrada” ou èš-dam-kừ.
Embora este seja um local físico de adoração para Ištar, o conceito da taberna
sagrada pode significar que as tabernas eram um lugar onde as atividades
associadas a Ištar, como prazer sexual e prostituição, aconteciam.
Essencialmente, a ação da prostituição, enquanto acontecia em uma taverna, era
um ato de adoração à deusa Ištar” [VOLKONEN, 2014, p. 32].
Nesse sentido, a prostituta e a taberna tem sua existência entrelaçadas à Inanna, em diversos hinos à própria divindade é comparada as profissionais do sexo, mas é preciso ter em mente que ao afirmar tal qualitativo, estes de forma alguma inferiorizam a imagem da deusa, apenas reforçam o paradigma da divindade como senhora das práticas sexuais e do sexo por excelência, justificam a existência da prostituta e legitimam sua conduta ao sacralizar seu ato e transformar a taberna em um templo.
Podemos
também perceber que a relação de Inanna com a taberna e a prostituição fazia
parte das crenças populares, pois uma canção [balbale] dedicada à deusa da
cerveja e cantada na taberna associa as duas divindades a esse ambiente:
Figura 01 -
Canção da cerveja
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rAYsx5IqD4MM
“Que o coração do tonel gakkul seja o nosso
coração!
O
que faz seu coração se sentir maravilhoso,
Faz
(também) nosso coração se sentir maravilhoso.
Nosso
fígado está feliz, nosso coração está alegre.
Você
derramou uma libação sobre o tijolo do destino,
Você
colocou as fundações para paz [e] prosperidade,
Que
Ninkasi viva junto com você!
Deixe-a
servir cerveja (e) vinho para você,
Deixe
[o transbordar] doce do licor ressoar agradavelmente para você!
Nos
[...] baldes de junco há cerveja doce,
Eu
farei copeiros, garotos, e cervejeiras me assistirem,
Enquanto
eu me sinto maravilhosa, eu me sinto maravilhosa,
Bebendo
cerveja, de bom humor,
Bebendo
licor, me sinto eufórica,
Com
alegria no coração [e] um fígado feliz -
Enquanto
meu coração está cheio de alegria
[E]
[meu] fígado está feliz, eu me cubro com uma roupa digna de uma rainha!
O
coração de Inanna está feliz novamente,
O
coração da rainha do céu está feliz novamente” [CIVIL, 1964, p. 74]!
Embora o tom da cantora seja um pouco mais lírico, seu refrão quase nos faz imaginar ao fundo as pessoas batendo alegremente palmas e canecos em meio à música e a diversão desse ambiente: “kaše, kaše, kaše, kaš” [cerveja, cerveja, cerveja].
Como locus privilegiado do prazer, onde a cerveja corria solta, não nos causa estranheza também que tal bebida adocicada tenha sido comparada ao órgão genital feminino. Um balbale para Bau de Šu-Suen (Šu-Suen A) diz que a vulva tem a doçura da cerveja: “a cerveja da taberneira é doce. Como sua cerveja seus órgãos genitais são doces, a cerveja é doce. Como a boca seus órgãos genitais são doces [...]” [ETCLS, c.2.4.4.1]. Assim, o prazer que embriaga o faz em duplo sentido.
Ainda
em relação à Inanna, muitas composições a comparam com a prostituta ou com a
cervejeira. Um exemplo disso é um hino dedicado à divindade, disponível no
acervo do Corpus Eletronic of Sumerian
Literature, que traz as características da divindade associadas à noite e
atribuem a ela a função do prostíbulo:
“[...] Como uma prostituta você vai até a taberna [...]. Quando os servos deixam os rebanhos soltos, e quando o gado e ovelhas são devolvidos ao curral e ao aprisco, então, minha senhora, como os pobres sem nome, você veste apenas uma única peça de roupa. As pérolas de uma prostituta são colocadas em torno de seu pescoço, e você provavelmente solicita um homem na taberna. [...] Inana, você é a senhora de todos os poderes divinos, e nenhuma divindade pode competir com você. Aqui você pode habitar, Ninegala; deixe-me falar de sua grandeza. À noite, quando as estrelas retornam juntas mais uma vez e quando Utu entra em seu quarto, quando no céu, Inana, você brilha grandemente como fogo, e quando na Terra, Ninegala, você chia como um falcão, então você [...] em jogo e dança!” [ETCSL, t.4.07.4]
Nesse hino também encontramos a menção de que as prostitutas possuíam um colar de contas, e que exerciam suas funções na taberna, assim como à beira da estrada, por onde estes trabalhadores voltavam para casa, como já comentado por T. Jacobsen, os becos e as portas das cidades também eram lugares de transito dessas profissionais, que sob a proteção da deusa das práticas sexuais exerciam suas atividades laborais.
Embora o trabalho da prostituta, não se realizasse apenas na taberna, essa atividade e esse local parecem influenciar-se mutuamente e tenderem para um aspecto sagrado entrelaçado em suas formas mundanas. A deusa aproximava pelo sexo o mundo profano do ambiente divino e estendia ao primeiro ares de sacralidade enquanto ao segundo pincelava de elementos profanos.
Kia Volkonen [2014] acredita que Inanna/Ishtar seria um exemplo de modelo central para a feminilidade das mulheres mesopotâmicas, em aspectos duais de esposa e prostituta, no entanto, acredito que as múltiplas funções da divindade não podem ser restritas apenas ao lar e à prostituição, até porque o aspecto de esposa, como mãe e protetora, não cabe para a divindade, que trocava de amores facilmente e quando casada com Dumuzi, o deixava sozinho para procurar prazeres nas ruas.
Algumas
das características e funções da divindade foram discutidas em minha
dissertação e aprofundadas em minha tese, daí a não acreditar em uma
personalidade ou funções duais e/ou contrapostas para esta deusa, suas funções
e características eram múltiplas e não há caixinhas que possamos colocá-la.
Algumas
considerações:
Não há como abordar a deusa sem falar algo sobre os grupos femininos que habitavam a terra entre dois rios. Bem, partimos da lógica que embora a mulher mesopotâmica tenha como atributo o lar e todas as responsabilidades que ele impõe, a mobilidade social atestada nas diversas tarefas que esta realizava, que extrapolam o ambiente doméstico, nos permite afirmar que o nicho feminino e as identidades femininas não podem ser definidas tendo por base a esfera doméstica e aspectos de submissão patriarcal.
Não é raro percebermos que os trabalhos que abordam as mulheres, concentrados geralmente nas mulheres da elite, atendem um viés que privilegia sempre questões de submissão, de papéis religiosos zelosos em relação à família e da construção de uma pureza cujo conceito não cabe à sociedade mesopotâmica. Talvez, por isso, estranhamos tanto quando Inanna vai até a taberna, ou assumimos a postura de autores que veem este espaço como locus de impureza, onde até mesmo os reis proibiam as mulheres sagradas de entrar.
Embora haja controversas sobre a reputação cervejeira, vista em alguns casos como uma prostituta, e daqueles que transitavam pelo local, esse espaço foi um importante ponto de encontros na sociedade mesopotâmica. Tanto a meretriz quanto a taberneira estiveram relacionadas às atividades de descontração e prazer, o prazer do vinho e da cerveja que embriagava, ou o prazer do sexo que em muitos aspectos tinha um cunho embriagante e mágico.
É importante colocar, como fez Julia Assante [1998], que nossa leitura acerca da taberna carece de revisão, a taberna não era o prostibulo, pelo menos não no sentido que nossa mentalidade moderna concebe, era o local de produção da cerveja, a cervejeira não era a cafetina, mas alguém que administrava o local e detinha o conhecimento na produção dessa bebida.
Assim, a cervejaria (taberna) esteve longe de ser um cabaré e estava mais para um local de encontro, de troca, de barganha, das mais variadas formas. Era também o local onde o sagrado e o profano não tinham limites precisos, onde sexo e magia eram caminhos de mãos duplas, pois a partir de um se praticava o outro, a ponto de se fundirem em um só.
A
prostituta ganhava a vida ao mesmo tempo em que servia a deusa, e a deusa
protegia suas servas, seus fieis e a taberneira, sorria enquanto bebia cerveja,
pois havia festa em seu templo, como dizia o hino: o coração de Inanna estava
feliz.
Referências:
Dra. Simone Aparecida
Dupla é pesquisadora na área do Antigo Oriente Próximo. E-mail: cathain_celta@hotmail.com
ASSANTE, J. “The
kar kid/harimtu, Prostitute or Single Woman?: A consideration of the Evidence”.
Ugarit-Forschungen 30, 1998.
CIVIL, M. A Hymn
to the Beer Goddess and a Drinking Song, Chicago: Oriental Institute, 1964,
p.74. In: Studies Presented to A. Leo Oppenheim. Chicago: The Oriental
Institute of the University of Chicago, 1964.
ETCSL, t.1.3.1.
Inana and Enki. Disponivel
em:
ETCSL, t.5.5. A drinking song. Disponível
em: http://etcsl.orinst.ox.ac.uk/cgi-bin/etcsl.cgi?text=t.5.5.a#.
ETCSL:
t.4.07.4, A hymn to Inana
as Ninegala (Inana D). Disponível em: http://etcsl.orinst.ox.ac.uk/cgibin/etcsl.cgi?text=t.4.07.4&display=Crit&charenc=gcirc&lineid=t4074.p16#t4074.p16.
ETCSL, t.2.5.3.1. Um šir-namursaĝa para Ninsiana de Iddin-Dagan (Iddin-Dagan A). Disponível em:
http://etcsl.orinst.ox.ac.uk/cgi-bin/etcsl.cgi?text=t.2.5.3.1#.
JACOBSEN,
Thorkild. The Treasures of Darkness: a history of mesosopotamian religion.
New Haven and London: Yale University Press, 1976.
STOL, M. Women in the Ancient Near East. Translated Helen and Meryn
Richardson. Boston/Berlin: de Gruyter, 2016.
VOLKONEN, Kia. “Womanhood: Aspects of Lower Class Feminine Identity in
Old Babylonian Mesopotamia”. S.r, 2014.
Texto maravilhoso! Adorei! Parabéns!
ResponderExcluirSobre as "mestres cervejeiras", há informações de como chegavam a esse "posto". Se era por acaso ou por questões familiares, etc?
Oi Luiz, gratidão por ler meu texto.
ExcluirA fabricação da cerveja esteve relacionada a deusa Ninkasi, mas não encontrei ainda documentos que tragam se a razão da fabricação ser um ofício feminino seja pelo fato da divindade da cerveja ser uma mulher. A cerveja foi uma das principais bebidas, junto com o fermentado de tâmaras, segundo a obra de Samuel Noah Khamer, "A cozinha mais antiga: Mesopotâmia", havia pelo menos 50 tipos de cerveja, entre sabores, teor alcoólico, formas de fermentação, etc. Eu escrevi um pequeno tópico na minha tese sobre as mulheres mesopotâmicas, está disponível no site da UEM, nele falo sobre a atuação das mulheres na sociedade, buscando abordar principalmente as mulheres das classes populares, creio que irá gostar. Abç
Obrigado! :)
ExcluirEnriquecedor seu texto, quando trabalhamos Mesopotâmia em sala de aula, quase não aprofundamos em seus deuses e deusas, seu texto contribuiu para um complemento neste sentido, e ainda sobre as mulheres cervejeiras, prostitutas e as tabernas que eram centros "culturais" se é que podemos chamá-los assim. Podemos considerar que as Medidas Sagradas eram o poder disciplinar mesopotâmico?
ResponderExcluirAtt,
Lidiane Álvares mendes
Oi Lidiane, gratidão por ler meu texto.
ExcluirAs medidas sagradas, constitui-se como forma de ser, agir e sentir na sociedade mesopotâmica, elas são parâmetros para a atuação humana e também fazem parte do que podemos chamar de aspectos culturais ou civilizatórios. Entre as medidas encontramos ofícios, avanços "tecnológicos", regras, uma série de estereótipos e paradigmas que para nosso mundo ocidental soa estranho. Entre as medidas sagradas encontramos os ofícios dos sacerdotes, dos vários tipos, a dança, instrumentos musicais, arte de fazer amor, o beijo do falo, os oficiantes de culto, as armas, não há dualismo bem e mal, tudo é uma medida sagrada. No mito Inanna e Enki, o deus da sabedoria cita as medidas dadas a Inanna, após ser embreagado por ela. É uma documento interessante presente no arquivo digital do ETCSL. Então não consigo ver as medidas como poder disciplinar, mas como aspectos socialmente aceitos relacionados a cultura e ao modo de ver o mundo dos mesopotâmicos.
abç
Boa noite. Muito legal seu trabalho. Agora, com relação a liberdade das mulheres. Segundo o texto elas chegaram a gerenciar tabernas, isso é indicativo de uma maior liberdade feminina naquela sociedade? Ficava restrito a taberna? Grato, Marlon Barcelos Ferreira
ResponderExcluirGratidão por ler meu texto prof. Marlon.
ExcluirAs mulheres desempenharam diversas funções na sociedade mesopotâmica, quando pensamos em liberdade, o fazemos com base em nossa própria temporalidade, ou nos estudos acerca do seu cerceamento nas sociedades modernas, e isso acaba por fazer com que generalizemos o papel das mulheres em sociedades que destoam das nossas. Na Mesopotâmia, os papéis e atuação das mulheres mudam de acordo com a temporalidade, até o período paleobabilônico, percebemos que as mulheres tem maior "liberdade", há mulheres que gerenciam os negócios da família e a própria vida, sacerdotisas de diversas hierarquias, comerciantes, oficiantes de culto, dançarinas, musicistas, mulheres que exercem ofícios fora do lar, além dos afazeres domésticos, são trabalhadoras contratadas pelos complexos templários ou pelo 'estado', como é o caso de Ur III. Um marco importante, se pensarmos em termos de controle sobre elas, seria a partir do domínio assírio, nele percebemos maior rigidez, presentes nas leis e nas mudanças de mentalidade. Tem um tópico de minha tese, disponível no site da UEM, em que abordo as mulheres e um especificamente das classes populares. Martin Stol também tem uma obra muito interessante.
att
Parabéns pelo seu texto!
ResponderExcluirRecordando as minhas aulas de história, não lembro de a religião mesopotâmica e seus deuses terem sido abordados. Você considera que esse tópico seria um tema interessante para abordar com os alunos? Se sim, você teria alguma indicação de tarefa?
Atenciosamente,
Márcia Rohr Welter
Gratidão por ler meu texto, Márcia.
ExcluirSim, nós passamos muito rápido pela Mesopotâmia. Suas narrativas mitológicas são riquíssimas para abordarmos a sociedade e o seu modo de vida, até porquê, na Mesopotâmia, são os deuses que regem a vida dos seres humanos e estes se espelham em suas divindades para tecer suas leis e sua organização social. Um exemplo disso, é o mito Inanna e Enki, em que a deusa usa de um subterfúgio para se apoderar das Medidas Sagradas, ele é interessante para trabalhar a ideia de bem e mal e como ela se difere da nossa percepção ocidental. Dependo da série, se pode trabalhar com H.Q., contando uma das aventuras das divindades, com confecção de cartas com características e poderes dos deuses, elaboração de impressão de selos cilindros. A partir da leitura dos textos mitológicos, as ideias vão surgindo sobre a abordagem e as atividades. Eu gosto muito da utilização de cores, atividades que envolvam giz de cera, guachê, lápis de cor, porque muitas vezes quando falamos dessas culturas extintas para os alunos, tem-se a impressão que é tudo em preto e branco, ou apagado pelas areias do deserto, quando temos um mundo multicolorido e cheio de vida. Um passeio virtual pelo Museu de Bagdá também é interessante, há outros museus que permitem isso também, inclusive com artefatos em 3D.
Att.
Simone Aparecida Dupla, excelente texto. Parabéns. Minha pergunta é de natureza puramente metodológica: quais foram as fontes primárias que você usou para produzir esse estudo?
ResponderExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa
Gratidão por ler meu texto Raimundo.
ExcluirEu utilizo como fontes, os arquivos do ETCSL (Corpus Eletrõnico de Literatura Suméria), da Universidade de Oxford, além dos hinos sumérios e acádios, de Federico Lara Peinado, e aquelas que se encontram nas obras provenientes de excavações arqueológicas do Instituto Oriental da Universidade de Chicago. Além destas, tenho diversas obras que tem transliteração e tradução de documentos mesopotâmicos, mas todas estão em idioma estrangeiro.
Att