Jeferson Dalfior Costalonga

 

BALDUÍNO IV: O REI LEPROSO DE JERUSALÉM


O presente texto visa discorrer, de forma breve, acerca da biografia de um peculiar personagem do Oriente Próximo no século XII: Balduíno IV, o Rei Leproso de Jerusalém. O jovem monarca personificou a sacralidade muitas vezes ligada à figura de um rei medieval, com o estigma conferido ao portador da lepra naquele mesmo período.

 

A lepra

A lepra é mencionada em diversas ocasiões na bíblia, quase sempre relacionada a intervenção divina sobre o indivíduo. Em várias passagens aparece como forma de punição contra alguém que cometeu atos considerados impróprios, como no Livro de Números 12:10. Há trechos em que a doença surge como forma de provação, para que a pessoa reconheça sua inferioridade perante Deus, como ocorre em Êxodo 4:6. Por fazer parte de uma sociedade baseada em preceitos bíblicos, tais menções conferiram ao sujeito medieval, quando infectado, toda sorte de estigmatizações.

É possível que a lepra tenha chegado ao Ocidente por volta do século I a.C., de acordo com Carvalho [2004, p. 17], levada pelas tropas romanas que regressavam do Egito; todavia, há a hipótese de que a moléstia chegou na Grécia em 326 a.C., através dos soldados de Alexandre, o Grande, quando estes retornavam de suas incursões na Ásia. A doença se espalhou pelo Velho Continente de tal forma que, segundo Foucault [1978, p. 7], por volta do século XIII haviam cerca de dezenove mil leprosários nos territórios cristãos.

Voltaire [1827, p. 13] diz que o grande número de infectados e, consequentemente,  a alta demanda por atendimento ocorria por causa das cruzadas. O filósofo francês considerava que os cruzados levaram a enfermidade para a Europa quando regressavam de suas jornadas no Oriente, o que acarretou na disseminação da doença. Bériac [1985, p. 129] elenca outros fatores para a ampliação da rede de casas que acolhiam pessoas infectadas. Para este historiador medievalista, o aumento do número de leprosos e leprosários se deve ao crescimento demográfico dos centros urbanos, o que tornava mais evidente a presença de pessoas infectadas, além de um natural desenvolvimento hospitalar concomitante ao alastramento da doença

No Oriente, um leprosário ganhou destaque por causa de sua singularidade, trata-se da Casa de São Lázaro de Jerusalém. Esta instituição acolhia vários cavaleiros leprosos, inclusive da Ordem do Templo, e, gradativamente adquiriu características de uma ordem militar. No século XII, menciona Demurger [2002, p. 37], a Ordem de São Lázaro recebeu escravos do rei Amalrico, pai de Balduíno IV, como forma de recompensa pela participação em campanhas militares. Riley-Smith [2019, p.156] ressalta que algumas instituições, como o Hospital de São João de Jerusalém, acolhia e cuidava de pobres acometidos por qualquer doença, exceto a lepra.

 

A criação do Reino Latino de Jerusalém

Em 15 de julho de 1099, os cruzados venceram a resistência dos defensores fatímidas e invadiram Jerusalém. Em seguida ocorreu uma grande carnificina. Sem distinção de sexo ou idade, os habitantes locais, judeus e muçulmanos, foram massacrados. Consta que nesse dia as ruas ficaram cobertas de sangue e corpos dilacerados. Em 22 de julho, os príncipes cruzados fizeram uma assembleia para deliberar algumas demandas urgentes, como organizar as defesas da recém conquistada cidade e, principalmente, escolher um rei para governar Jerusalém.

Alguns nobres, como Roberto da Normandia e Roberto de Flandres, que foram apontados como candidatos naturais, não demonstraram interesse no escrutínio, pois pretendiam retornar à Europa com seus respectivos séquitos. Logo, restaram dois candidatos: o duque Godofredo de Bouillon e o conde Raimundo de Toulouse. Os nomes dos eleitores não foram preservados nas crônicas, mas Runciman [2003, p. 261] supõe que o juri fora formado por membros do alto clero e também pelos cavaleiros mais renomados. Raimundo de Toulouse venceu o pleito, contudo rejeitou o posto.

Com a recusa feita pelo conde Raimundo, a coroa foi ofertada a Godofredo de Bouillon, que aceitou a incumbência de governar a Cidade Santa. O Duque, no entanto, rejeitou ser chamado de rei; preferiu ostentar o título de Defensor do Santo Sepulcro. Surgiu, dessa forma, o Reino Latino de Jerusalém, o terceiro dos Estados cruzados fundados no Oriente. Ao que parece, o nome do novo governante foi bem recebido pelos cruzados; ademais, durante o trajeto à Palestina circulavam entre os peregrinos histórias que deram grande reputação a Godofredo.

Em 1100 o governante lançou ofensivas e incorporou as cidades de Hebrom e Jafa a seu Estado. Outras cidades como Cesareia e Arsuf, segundo Riley-Smith [2019, p. 128] se tornaram tributárias. Contudo, em 18 de julho deste mesmo ano o lotaríngio faleceu. Sobre a causa de sua morte, há divergências entre os cronistas da época. O muçulmano Ibn al-Qalanissi [1952 apud Maalouf, 1989, p. 65], relata que o Duque morreu após ser atingido por uma flecha; já o cristão Mateus de Edessa [1858 apud Runciman, 2003, p. 278], diz que Godofredo fora envenenado após comer frutas enviadas por um emir. O mais provável, no entanto, é que tenha sido acometido por alguma doença infecciosa.

 

Os reis cruzados de Jerusalém

Godofredo de Bouillon foi sucedido por seu irmão mais jovem, Balduíno, então conde de Edessa; este, diferentemente de seu antecessor, assumiu o título de rei. Foi coroado no natal de 1100, na Igreja da Natividade, em Belém, o que agregou imenso simbolismo ao cargo. Maalouf [1988, p. 69] diz que o novo rei tinha sob comando apenas algumas centenas de cavaleiros à disposição, no entanto novas levas de peregrinos que chegavam à Terra Santa se juntavam ao exército por determinados períodos, o que possibilitou ao rei colocar em prática seus planos de expansão.

Ao longo de seu reinado anexou diversos territórios sob seu domínio, dentre as quais, diz Kostick [2010, p. 182] estavam importantes cidades costeiras, como Acre e Beirute. Tais ações devem ter impressionado os muçulmanos, pois o cronista Ibn al-Athir [1979 apud Maalouf, 1988, p. 69] atribuiu a Balduíno o papel de idealizador de todo o movimento cruzadista. Em 1118, enquanto se dirigia para uma expedição no Egito, o rei Balduíno ficou doente e faleceu. Seu exército trasladou o corpo de volta para Jerusalém, onde em 7 de abril fora sepultado ao lado de seu irmão Godofredo na Igreja do Santo Sepulcro.

O governante não deixou herdeiros, tampouco havia preparado a sucessão. Um conselho foi formado para decidir quem ocuparia o trono. O designado foi Balduíno de Bourcq, primo do falecido rei. Em 14 de abril de 1118, um domingo de páscoa, assumiu a coroa como Balduíno II. Sob a autorização e apoio deste rei surgiu em 1119 a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Jesus Cristo e do Templo de Salomão, conhecidos como Templários, uma das instituições mais emblemáticas do período das cruzadas.

Balduíno II foi casado com uma princesa armênia chamada Morphia; o casal não teve filhos homens, em compensação conceberam quatro meninas. Melisende, a primogênita, foi a escolhida para suceder o pai. Balduíno II considerava necessário a filha ter a seu ao lado um marido para auxiliá-la nas questões governamentais e cumprir os deveres bélicos, além, é claro, garantir a continuidade da dinastia. Vários nomes foram propostos, mas a sugestão de Luís VI foi a que mais agradou; o rei francês recomendou Fulque V, conde de Anjou.

O Conselho dos Barões, um grupo de proeminentes nobres que deliberava questões relevantes do Reino, não criou objeções diante de um homem de tão alta estirpe, que, segundo Runciman [2003, p. 158], contava até com o apoio do Papa da época, Honório II. Fulque, conforme diz Mayer [2001, p. 121], recebeu garantias de que compartilharia o poder com Melisende, ao invés de ser apenas um rei consorte, e, dessa forma, aceitou a incumbência. Viúvo à época, entregou suas propriedades para seu filho e foi para Jerusalém disposto a permanecer na Terra Santa até o fim da vida. O casamento ocorreu no final de 1129.

Em 1131 Balduíno II, já bastante debilitado, recebeu boa parte da nobreza local. Na presença destes, transferiu os poderes para Melisende, Fulque e o filho do casal, um menino de dois anos, também chamado Balduíno. Foi o último ato público do rei, que morreu em 21 de agosto daquele mesmo ano. Assim como seus antecessores, foi enterrado na Igreja do Santo Sepulcro. Em 14 de setembro, nesta mesma igreja, Fulque e Melisende foram coroados. Os primeiros anos de união foram marcados por algumas desavenças que foram superadas; os anos finais foram harmoniosos. Guilherme de Tiro [1844 apud Pernoud, 1983, p. 84] menciona que todas as reuniões administrativas contavam com a presença de Melisende; Fulque, acrescenta o cronista ierosomilitano,  tomava suas decisões apenas depois de ouvir os conselhos de sua rainha.

Em novembro de 1143, durante uma estadia da família real na cidade de Acre, o rei morreu após cair do cavalo enquanto caçava lebres. Em dezembro desse mesmo ano, na Igreja do Santo Sepulcro, o filho mais velho do casal foi coroado como Balduíno III, aos treze anos de idade. A mãe, contudo, continuou a governar como regente do jovem rei.

Ao chegar à fase adulta, Balduíno III reivindicou governar sozinho, mas Melisende se negava a abdicar. Segundo Runciman [2003, p. 289], a rainha contava com apoio de membros da nobreza, mas, ao que parece, o filho tinha maior aceitação por parte da opinião pública, que julgava necessário um rei guerreiro à frente dos negócios do Estado, sobretudo com a ascensão de Nur ed-Din, um dos principais artífices da unificação islâmica contra os cruzados. Em 1152, para simbolizar sua independência da mãe, Balduíno III foi coroado novamente.

Balduíno III aventurou-se em muitas campanhas militares; liderou uma expedição que conquistou a cidade de Ascalon, feito que seus antecessores não conseguiram. No final de 1162, durante uma estadia em Trípoli, o rei adoeceu e como não apresentava sinais de melhora, pediu que o levassem para Beirute, a fim de que morresse dentro do seu próprio reino. Em fevereiro de 1163 pereceu. Segundo Mayer [2001, p. 160], até mesmo os islâmicos choraram durante a passagem do cortejo fúnebre que levou o corpo para Jerusalém, onde fora sepultado.

Balduíno III não teve filhos, o herdeiro foi seu único irmão, Amalrico. O Conselho dos Barões, contudo, impôs uma condição para que Amalrico assumisse: deveria se separar da esposa, Agnes. O motivo alegado era a consanguinidade, pois eram primos em terceiro grau. Amauri, menciona Runciman [2003, p. 313], não hesitou em pedir a anulação do matrimônio, porém garantiu os direitos dos filhos do casal em eventuais sucessões.

Em vida, o projeto de Amauri foi invadir o Egito. Não conseguiu, contudo, conforme diz Tyerman [2010, p. 405], campanhas militares e alianças estabelecidas com os egípcios renderam consideráveis recursos financeiros para seu reino. O rei morreu em julho de 1174. Nesse mesmo ano houve o desaparecimento de Nur ed-Din, o que abriu caminho para o protagonismo de um dos mais ilustres personagens do Oriente medieval, o sultão Saladino.

 

Balduíno IV: o rei leproso

Balduíno nasceu em 1161. Teve duas irmãs, Sibila e Isabela, esta última fruto do segundo casamento de Amalrico. Por ser o único filho do sexo masculino, o garoto desde cedo começou a ser preparado para assumir o lugar do pai. Ao completar nove anos, Amalrico delegou a educação do jovem herdeiro a Guilherme, então arcediago da cidade de Tiro, que deu ao príncipe instruções em literatura e artes liberais. Fora Guilherme, inclusive, a notar que algo anormal ocorria com o menino.

Guilherme de Tiro [apud Montefiori, 2013, p.311] menciona que ao observar o príncipe brincar com outras crianças, percebeu que apenas o herdeiro não demonstrava sinais de dor ao receber golpes no braço. A princípio, Guilherme imaginou que seu pupilo fosse mais resistente que as demais crianças; ao interpelar Balduíno sobre o porquê de não manifestar nenhum tipo de sofrimento, este alegou que não sentia dor, mas apenas dormência nos braços. A explicação deixou o tutor intrigado, todavia logo deduziu que poderia se tratar de alguma enfermidade. Guilherme de Tiro relatou o ocorrido para Amauri; o rei consultou, então, médicos locais para saber do que se tratava. Chegou-se a conclusão que, de fato, se tratava da lepra.

Com a morte de Amalrico, o nome de Balduíno não enfrentou qualquer tipo de objeção por parte do Conselho dos Barões, pois era o único príncipe da família real; ademais, Sibila, um ano mais velha, estava solteira à época. Em 15 de julho de 1174, aos 13 anos de idade, foi coroado como Balduíno IV. Devido a sua pouca idade, Raimundo, conde de Trípoli se tornou regente do reino, cargo que ocupou até 1177, quando o rei, aos 16 anos, atingiu a maioridade.

No começo do reinado a lepra avançou consideravelmente sobre Balduíno, de tal forma que já supunha-se que o rei não viveria por muito tempo e tampouco poderia ter filhos. Buscou-se na Europa um marido para a irmã mais velha do monarca. Tyerman [2010, p. 418] diz que é possível que Balduíno pensasse em abdicar em favor do cunhado, Guilherme Espada-Longa; no entanto, poucos meses depois do casamento, Guilherme caiu enfermo e faleceu. Em 1180 Sibila casou-se novamente, desta vez com um cavaleiro recém chegado na Palestina, chamado Guy de Lousignan.

A condição de rei não o livrou das estigmatizações. A lepra de Balduíno foi associada a uma punição divina pelo fato de seus pais terem se casado mesmo cientes dos laços de parentesco que possuíam. Tais julgamentos não circulavam apenas entre os cristãos, entre os muçulmanos também dizia-se que a lepra do rei era uma forma de castigo. O cronista muçulmano Ibn Jubayr [2007, p. 473] esteve no Oriente à época do reinado de Balduíno IV e cita que a lepra foi um sinal da ira de deus que recaiu sobre o rei. Diz, além disso, que o pior ainda estava para acontecer, pois após a morte o castigo que o aguardava seria mais cruel e duradouro.

Yubayr [2007, p. 472] menciona que o rei, por causa da doença, sempre evitou aparecer publicamente. Provavelmente o cronista se refira a aparições por motivos diplomáticos ou diante da corte, pois sabe-se que Balduíno IV participava de campanhas militares. Em 1177 esteve à frente de tropas cruzadas que enfrentaram e venceram o exército de Saladino na Batalha de Montgisard. Em 1183 enviou um exército cruzado para socorrer a Fortaleza de Kerak, então sitiada por Saladino. Nesta ocasião, o rei se fez presente entre as tropas, contudo, já cego e impossibilitado de andar, fora conduzido em uma liteira.

A criação e existência de um reino cristão em Jerusalém devia-se, de certa forma, a fragmentação política entre os reinos islâmicos. No reinado de Balduíno IV a situação se inverteu. Os muçulmanos começaram a se unir politicamente sob a figura de um único líder, ao passo que entre os cristãos se intensificou uma disputa entre dois grupos pela hegemonia política. Um dos grupos era encabeçado por Raimundo de Trípoli e formado por nobres nativos do Oriente, já inseridos na cultura local, que pregava o convívio sem maiores conflitos contra seus antagonistas islâmicos. O outro era formado, em boa parte, por cristãos europeus recém estabelecidos em Jerusalém, muitos destes em busca de aventuras.

Com o agravamento da doença, o rei confiou ao cunhado a regência do reino, no entanto, a insatisfação dos nobres com o fato de Guy se mostrar ineficaz no comando do exército fez com Balduíno o destituísse do cargo. No início 1185, ciente de que seu fim se aproximava, Balduíno escolheu como herdeiro e sucessor seu sobrinho, uma criança também chamada Balduíno, filho de Sibila com seu primeiro marido; nomeou Raimundo de Trípoli como regente, função que deveria ocupar pelos dez anos seguintes, de forma que pudesse colaborar com o governo posterior.

Estabelecida a sucessão, Balduíno IV morreu em março de 1185, aos 24 anos de idade. Foi enterrado na Igreja do Santo Sepulcro. Não obstante sua condição física, governou por onze anos. Entre os conflitos internos e a ascensão de um dos maiores líderes da história do Oriente, conseguiu manter de pé o Estado criado no final do século XI. Seu sobrinho, o rei Balduíno V morreu em 1186, aos oito anos de idade, o que abriu caminho para que Sibila e Guy de Lousignan fossem coroados. Tais fatos foram decisivos para que Saladino, enfim, recuperasse Jerusalém para os islâmicos.

 

Conclusão.

Sabemos que a lepra foi uma das doenças mais temidas da Idade Média. Desta forma, há questionamentos sobre o respaldo obtido por Balduíno IV para assumir o trono e o apoio recebido durante seu reinado, no qual, mesmo diante de toda estigmatização que o portador da enfermidade levava consigo, nunca teve sua autoridade questionada. É possível, de acordo com Mayer [2001, p. 174], que a doença se tornou notória apenas depois que o rei atingiu a maioridade e os agravamentos decorrentes da lepra se tornarem perceptíveis. Supõe-se, portanto, que à época da coroação apenas um círculo mais íntimo tinha conhecimento sobre o quadro de saúde do então príncipe.

Há que se considerar, pois, o aspecto da dualidade conferido aos reis medievais. Após o rito da unção, que geralmente fazia parte das cerimônias de coroação, o rei era elevado a uma condição superior às dos demais indivíduos. O humano e o divino se tornava indissociável. Tal era a percepção da superioridade régia perante a comunidade, que em determinado período acreditou-se que os reis tinham poderes curandeiros, sobretudo os monarcas franceses e ingleses [BLOCH, 2006, p. 141].

A incontestabilidade de Balduíno IV pode ser compreendida através da obra de Ernst Kantorowicz, na qual este autor alemão explica acerca do caráter geminado de um rei, como se fosse possuídor de dois corpos: um natural, outro político. O corpo natural do rei, diz Kantorowicz [2012, p. 42], era suscetível a todo tipo de alteração, seja em virtude de doenças, idade ou outras fraquezas inerentes ao ser humano. O corpo político, todavia, representava o próprio governo; era intangível e incorruptível. Os atos praticados com o corpo político de um rei, com efeito, não poderiam ser questionados ou descumpridos por causa de qualquer tipo de inaptidão do corpo natural.

 

Referências

Jeferson Dalfior Costalonga é graduado em História pela Faculdade Saberes, Vitória-ES. Bacharelando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atualmente é professor da Rede Pública de Ensino do município de Serra-ES. Contato: j.costalonga@hotmail.com

BÉRIAC, Françoise. O medo da lepra. In: LE GOFF, Jacques (org.). As doenças têm história. Tradução de Laurinda Bom. Lisboa: Terramar, 1985.

BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo:Paulus, 2002.

BLOCH, March. Los reyes taumaturgos. Traduzido em espanhol por Marcos Lara e Juan Carlos Rodriguez Aguilar.  Cidade do México: Fondo de Cultura Economica, 2006

CARVALHO, Geraldo Barroso de. Reis, Papas e “Leprosos”. Belo Horizonte: Pelicano Edições, 2004.

DEMURGER, Alain. Os Cavaleiros de Cristo: Templários, Teutônicos, Hospitalários e outras ordens militares na Idade Média. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

FOUCAULT, Michel. A história da loucura. Tradução de José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, 1987.

KANTOROWICZ. Ernst H. Los dos cuerpos del rey: un estudio de tología política medieval. Tradizido em espanhol por Susana Aikin Araluce e Rafael Bláskez Godoy. Madrid: Akal, 2012.

KOSTICK, Conor. 1099- A Primeira Cruzada e a dramática conquista de Jerusalém. Tradução de Milton Camargo Mota. São Paulo: Edições Rosari, 2010.

MAALOUF, Amin. As cruzadas vistas pelos árabes. 2. Ed. Tradução de Pauline Alphene e Rogério Muoio. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.

MAYER, Hans Eberhard. Historia de las cruzadas. Tradução em espanhol de Jesús Espino Nuño. Madrid, Istmo, 2001.

MONTEFIORE, Simon Sebag. Jerusalém: a biografia. Tradução de Berilo Vargas e George Schlesinger. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

PERNOUD, Regine. A mulher no tempo das cruzadas. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas: Papirus, 1993.

RILEY-SMITH, Jonathan. As Cruzadas: uma história. Traduzido por Jonathas Castro. Campinas: Ecclesiae, 2019.

RUNCIMAN, Steven. História das Cruzadas Vol. II: o Reino de Jerusalém e o Oriente Franco. Tradução de Cristina de Assis Serra. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

TYERMAN, Christopher. A guerra de Deus: uma nova história das Cruzadas, vol. 1. Tradução de Alfredo Barcelos Pinheiro. Rio de Janeiro: Imago, 2010.

VOLTAIRE. Ensayo sobre las costumbres y el espirito de las naciones, y sobre los principales hechos de la historia. Tomo III. Paris: Libreria Americana, 1827. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=_VuZM4RNqg0C&pg=PA358&hl=pt-BR&source=gbs_selected_pages&cad=3#v=onepage&q&f=false>. Acesso em 12 jun. 2020.

YUBAYR, Ibn. A través del Oriente (Rihla). Traduzido em espanhol por Felipe Maíllo Salgado. Madrid: Alianza Editorial, 2007.

12 comentários:

  1. Confirma a bíblia a lepra era contagiosa e a passo a tinha que se isolar. Como o rei participava de trabalhos junto aos militares? Havia alguma restrição?

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    1. Obrigado pela pergunta!
      A restrição era apenas física mesmo. Não pelo medo do contágio, mas em virtude das lesões e sequelas ocasionadas pela doença que impediam o rei de participar mais ativamente das expedições militares. Antes da degeneração participava de forma ativa; após ficar debilitado devido ao agravamento da doença se fazia presente nas campanhas, mesmo que amarrado sobre um cavalo ou carregado em uma liteira.

      Jeferson Costalonga

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  2. Parabéns pelo texto, muito rico e didático

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O rei Balduíno IV e Saladino, em um passado recente, acabaram ficando mais conhecidos em nosso país por conta do filme "Cruzada" (Kingdom of Heaven) de Ridley Scott. O medievalista italino Marco Meschini fez um estudo no qual aponta que o filme é recheado de anacronismos e incoerências. Ao elaborar seu artigo, você teve algum contato com o filme? Se sim, também notou tais equívocos históricos? Qual a sua opinião a respeito do como quase sempre, Hollywood acaba desinformando por meio de suas produções, no que se refere à história?

    Victor Gonçalves de Matos

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    1. Olá, Victor. Obrigado pela pergunta.

      Em relação aos anacronismos e incoerências, como diz Claude Cahen, o homem sofre influência dos princípios e valores da sociedade na qual está inserido. Dessa forma, em diversas ocasiões, algumas ideias e sentimentos expressados em livros e filmes dizem mais dos autores, leitores e espectadores, do que dos próprios sujeitos históricos.
      No que diz respeito aos equívocos contidos no filme, podemos observar alguns: Ao longo de sua vida, Balduíno IV não fez uso de máscara sobre seu rosto. O filme passa a imagem de um Saladino misericordioso, que, por bondade, poupou os cristãos, na ocasião da conquista de Jerusalém em 1187, quando, de fato, o Sultão se sentiu forçado a firmar um acordo com Balian de Ibelin. Dentre outros.
      No caso dos filmes de Hollywood, temos que levar em consideração que a produção cinematográfica é uma obra artística, repleta de “licenças poéticas”, que, infelizmente, tem como objetivo entreter e lucrar, apenas. O próprio Ridley Scott, à época do lançamento do filme, ao ser questionado sobre as incoerências históricas contidas na película, disse que era um cineasta, não um historiador.

      Jeferson Costalonga

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    2. Grato pelas respostas.

      Victor Gonçalves de Matos

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  5. Primeiramente obrigado pelo excelente texto, minha pergunta é quanto a que grupo exercia mais influencia e tinha ais poder políptico no Reino de Jerusalém á época da morte de Balduíno IV? Baseado nesse trecho: "A criação e existência de um reino cristão em Jerusalém devia-se, de certa forma, a fragmentação política entre os reinos islâmicos. No reinado de Balduíno IV a situação se inverteu. Os muçulmanos começaram a se unir politicamente sob a figura de um único líder, ao passo que entre os cristãos se intensificou uma disputa entre dois grupos pela hegemonia política. Um dos grupos era encabeçado por Raimundo de Trípoli e formado por nobres nativos do Oriente, já inseridos na cultura local, que pregava o convívio sem maiores conflitos contra seus antagonistas islâmicos. O outro era formado, em boa parte, por cristãos europeus recém estabelecidos em Jerusalém, muitos destes em busca de aventuras.", fica clara a divisão entre facções na corte, entre os nobres que desejavam a negociação e os que desejavam conflito, e seria a liderança desastrosa de Guy de Lousignan que levaria a escalada dos conflitos com os Aiúbidas, e a derrota na Batalha de Hattim em 1187, quando Saladino retomou a cidade. A própria Sibila não poderia ser uma alternativa mais viável para a regência de seu filho, dado o exemplo bem sucedido de Melisende e Balduíno III? Por que o grupo de Raimundo III, dos 'nobres nativos' que favoreciam a convivência, perdeu a disputa pelo controle do trono de Jerusalém? De onde vinha o apoio para cada uma das facções, de Roma e outros reinos europeus? Havia alternativas para ocupar o trono além de Guy, e quanto a outra irmã de Sibila e Balduíno IV?
    Se as dúvidas forem muitas para responder aceito sugestões de leituras mais aprofundadas.
    Grata, Pâmella Holanda Marra.

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    1. Muito obrigado, Pâmella, pela leitura e pela pergunta. Vou responder em partes, Ok?!

      - Que grupo exercia mais influencia e tinha mais poder político no Reino de Jerusalém á época da morte de Balduíno IV?
      À época da morte de Balduíno, apesar das divergências já latentes, havia um certo equilíbrio de forças entre o “partido da corte” e o “partido dos nobres”.

      A própria Sibila não poderia ser uma alternativa mais viável para a regência de seu filho, dado o exemplo bem sucedido de Melisende e Balduíno III?
      No texto não deu para abordar esta questão, devido ao limite de espaço proposto, mas o exemplo de Melisende e seu filho não foi muito bem sucedido, pois quando Balduíno III atingiu a maioridade, Melisende relutava em abdicar. Em certa ocasião, o atrito entre mãe e filho quase gerou uma guerra cívil.
      É possível que Balduíno tenha preterido Sibila da sucessão por perceber que a influência das pessoas mais próximas haviam sido nocivas para seu reino.
      O rei sabia também que Raimundo tinha habilidade para costurar acordos com os muçulmanos. Naquele momento, era o que mais precisavam. Isto Sibila, talvez, não pudesse oferecer naquele momento.


      Por que o grupo de Raimundo III, dos 'nobres nativos' que favoreciam a convivência, perdeu a disputa pelo controle do trono de Jerusalém?
      Vale ressaltar que os nobres nativos defendiam uma convivência sem maiores atritos até mesmo como forma de sobrevivência. A derrocada deste grupo teve início quando o menino Balduíno V faleceu e, em seguida, Sibila foi coroada e decidiu dividir o poder com Guy.


      De onde vinha o apoio para cada uma das facções, de Roma e outros reinos europeus?
      Em determinado momento se cogitou recorrer aos grandes governantes ocidentais (rei da França, rei da Inglaterra e o Papa) para que estes escolhessem, entre Sibila e Isabela, qual princesa teria o direito de governar de Jerusalém caso o menino Balduíno V morresse precocemente. Sibila contava com o apoio do “partido da corte” e, possivelmente, dos Templários. Isabela era enteada de Balian de Ibelin e contava com o apoio do “partido dos nobres”. No entanto os reinos europeus não precisaram intervir na questão, pois houve uma manobra e Sibila se apossou da coroa.
      Apoio a alguma das facções especificamente, não encontrei menção nas obras que li.


      Havia alternativas para ocupar o trono além de Guy, e quanto a outra irmã de Sibila e Balduíno IV?
      Caso Sibila escolhesse outro nobre além de Guy, é provável que este seria aceito da mesma forma. Quanto a Isabela, houve uma tentativa do “partido dos nobres” em colocá-la no poder. Este grupo propôs coroar Isabel e seu marido, Humberto de Toron; e depois levá-los para Jerusalém, mesmo que ocorresse uma guerra cívil. Humberto, contudo, os abandonou e foi para Jerusalém a fim de prestar homenagem a Sibila e Guy. A causa dos barões estava definitivamente perdida.


      Jeferson Costalonga

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  6. Bom dia, prof. Jeferson!

    São muitos os pontos que chamam a atenção no presente texto. Uma família marcada pela fragilidade corpórea, digamos assim. Doenças, mortes repentinas, não decendentes. O Rei Balduino IV, mesmo diante de sua doença: “Não obstante sua condição física, governou por onze anos.” Diante de toda a história contada, muitos são os questionamentos que surgem, mas o que me deixa “pensativa” é: O homem sabe que é frágil e limitado. Sabemos que hoje estamos aqui, mas do amanhã não temos garantia. Lembrei do filme “1492 – a conquista do paraíso”, Colombo no final de sua vida não teve nem mesmo o privilégio de lembrar por onde andou... é um simples exemplo. Valeu a pena? Vale a pena? O homem diante de séculos e séculos de história não aprende, o que fala sempre mais alto é a ganância, o poder, o “pisar” em cima do outro, dos menos favorecidos. A leitura desses textos, nos ajudam a valorizar o que temos de mais precioso e frágil: A vida!

    Obrigada e parabéns pelo texto.
    Celiana Maria da Silva.

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    1. Olá, Celiana. obrigado pela leitura e pela oportuna reflexão.

      A intenção de Colombo quando decidiu buscar uma nova rota marítima para as Índias, era arrecadar fundos para financiar uma nova cruzada para Jerusalém.

      Jeferson Costalonga

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