Fabiane Assaf e Anna Tereza Scartezini

 

FEMINISMO ISLÂMICO VERSUS FEMINISMO SECULAR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO ISLÃ E A ACADEMIA


O objetivo do presente artigo é o de apresentar o lugar do feminismo islâmico dentro dos estudos feministas e dos estudos na área de Relações Internacionais. Inicialmente será trazido um breve panorama do feminismo secular. Em seguida, o feminismo islâmico será colocado em pauta, com ênfase especial à ressignificação e debate de esteriótipos comumente associados às mulheres muçulmanas. Por fim, um breve panorama dessas discussões será proposto para reflexão.

Um primeiro apontamento teórico-metodológico em relação a esse trabalho diz respeito ao recorte dele dentro dos estudos pós-coloniais. Como apontado por Franco [2016, p.86], os estudos coloniais, embora amplos em abordagens/temáticas, podem ser definidos como aqueles desenvolvidos na “segunda metade do século XX, com caráter de resistência política, ideológica, cultural, econômica e social face às dominações colonialistas e suas estruturas residuais”. O estudos feministas e de gênero enquadram-se nessa perspectiva, na medida em que propõem uma reflexão sobre categorias de análise sócio-históricas e de dominação colonial, imperialista e patriarcal anteriormente estabelecidas. 

Neste sentido, a politização dos direitos das mulheres ao nível das relações internacionais não é um fenômeno recente, tampouco exclusivo do contexto árabe e muçulmano [SILVA, 2008]. Como aborda Silva [2008], a denúncia da associação entre o colonialismo e direitos das mulheres e do patriarcado com o imperialismo foi inicialmente trazida pela área dos estudos subalternos ou pós-coloniais [Spivack, 1985; Carby, 1982; Mohanty, 1984], estimulando  racialização da história do colonialismo [Donaldson, 1993; McClintock, 1995; Mohanty, 2003].

Para iniciar uma breve apresentação do feminismo secular face ao feminismo islâmico, cabe lembrar da fala do antropólogo pós-colonialista Talal Asad [1986; 1996] de que há um equívoco na visão de estudiosos ocidentais, que têm referenciais ocidentais para o julgamento de um universo que possui outros significados simbólicos [FRANCO, 2016]. Assim sendo, deve-se começar esse debate pela percepção de que para os ocidentais seculares, o islamismo e seu código de valores desrespeitam lutas históricas ligadas à emancipação das mulheres e direitos humanos conquistados e, nesse sentido, o feminismo islâmico encontra-se em “uma fronteira de difícil negociação em relação a outros grupos feministas e também a outros movimentos sociais” [FRANCO, 2016, p.88].

Assim sendo, deve-se levar em conta o fato de que o feminismo islâmico enfrenta um isolamento político face ao movimento feminista secular, por situar-se “nas fronteiras entre as perceptivas seculares e as perspectivas religiosas islâmicas” [FRANCO, 2016, p.88], fronteiras que se caracterizam como porosas, conflitivas e heterogêneas. O feminismo islâmico, nesse sentido, encontra-se associado, no ocidente, ao Islã e ao Oriente, carregando, consequentemente, os esteriótipos frequentemente negativos associados a estes, como a associação a práticas misóginas, machistas e que reforçam as desigualdades de condição. Nesse sentido, o feminismo islâmico se situa como movimento de “resistência ao ideal ocidental de secularização” [FRANCO, 2016, p.88].

 

O feminismo secular e as Relações Internacionais: apontamentos gerais

Colocadas essas ressalvas, cabe pensarmos brevemente como se estruturou a área de women studies enquanto área científica acadêmica, e, em particular, como essa estruturação se deu na área das Relações Internacionais. Como abordado por Silva [2008, p.6], a área dos women studies se formou tendo uma base essencialmente estruturalista, através da demanda de oposições universais homólogas como público/doméstico, oficial/ oficioso, natureza/cultura. Essas abordagens, inicialmente, tinham por objetivo apontar o espaço doméstico como um espaço político, tendo este sido tradicionalmente ocupado pelas mulheres e por muito tempo o único espaço ocupado por elas. Contudo, Silva [2008] acusa o fato de que a mera revalorização do privado e do doméstico acabou por perpetuar a marginalização feminina.

Ainda no campo científico-acadêmico, como apresentado por Franco [2016], correntes mais recentes do movimento feminista secular trouxeram críticas ao entendimento dicotômico originário da área, como a a autora filósofa estadunidense pós-estruturalista Judith Butler, mas essas visões corroboraram para ampliar as diferenças entre o feminismo secular e o islâmico. Em suas abordagens, Butler desconstrói a ideia de identidade de gênero, apresentando os sujeitos do gênero, o binarismo sexo/gênero e a própria ideia de gênero como construções sociais, porém esses debates acabam por operar de modo distante da realidade de agenda do feminismo islâmico, que, em princípio, ainda precisa se ocupar do lugar histórico e social das mulheres [FRANCO, 2016, p.89].

Pensando o desenvolvimento do movimento feminista em perspectiva cronológica, deve-se frisar o fato de que o feminismo não é um movimento homogêneo. Trata-se de uma manifestação embebida de visões e perspectivas plurais, cujas reivindicações se convergem em um ponto comum: pôr fim às desvantagens sociais entre homens e mulheres. A história do feminismo divide-se cronologicamente em três momentos: a primeira onda feminista, na passagem do século XIX ao XX; a segunda onda, nas décadas de 1960 e 1970 e a terceira onda, que se estende da década de 1990 aos dias atuais. Cada onda apresenta uma pauta específica e reflete o contexto sociopolítico no qual está inserida.

O protagonismo da primeira onda foi assumido por feministas brancas, que buscavam, no contexto de uma Europa liberal e industrial, maior participação na esfera pública. Já a segunda onda teve caráter construtivista e diferencialista e discutiu temas ignorados pela primeira onda, como a sexualidade e o papel subordinado da mulher no ambiente doméstico. A terceira onda, por sua vez, dá início a discussões feministas pela ótica pós-estruturalista, passando a enxergar mulheres não como um grupo uniforme, senão como grupos de mulheres.

Ao questionar as versões precedentes do feminismo, a terceira onda busca oferecer um movimento diverso, levando em conta a voz de mulheres outrora silenciadas – notadamente, mulheres não-brancas e não-ocidentais. Nesse sentido, o conceito de interseccionalidade torna-se ponto fulcral da discussão. A interseccionalidade nasce do movimento feminista negro e parte do pressuposto de que a opressão é melhor compreendida como um sistema múltiplo de opressões convergentes e não como um processo singular [VIEIRA, 2018, p. 22]. Esse conceito é importante, uma vez que mulheres diferentes vivem realidades diferentes e, consequentemente, formas de desigualdade diferentes.

Por fim, colocados o contexto teórico e histórico do feminismo secular, cabe breve análise sobre as questões de gênero nas Relações Internacionais. Apesar de ter havido incremento no número de pesquisas, é inegável que o reconhecimento da importância da área e suas implicações nas dinâmicas da política internacional é muito recente [SILVA; LINHARES; MELO, 2019]. Pode-se apontar as décadas de 1980 e 1990 como aquelas em que os estudos feministas tiveram impacto mais considerável na disciplina das RI. Um marco aponta por Watson [2008] [SILVA; LINHARES; MELO, 2019, p.59] foi a criação de uma edição especial sobre gênero do periódico Millennium: Journal of International Studies no ano de 1988, que continha a denúncia de Fred Halliday [1988] de que, “diferentemente de outras áreas das ciências sociais, a disciplina de RI havia negligenciado o papel do gênero na constituição do sistema internacional”.

Para além das dificuldades no âmbito geral, as particularidades latino-americanas e do caso brasileiro em relação ao desenvolvimento dos estudos de gênero, em especial nas Relações Internacionais, revelam que há pouquíssimas pesquisas na área de RI no Brasil que se debruçam sobre o feminismo islâmico [SILVA; LINHARES; MELO, 2019, p.62]. Isso se deve à resistência das teorias clássicas em Relações Internacionais em abordarem uma ampla gama de reivindicações de natureza epistemológica e ontológica, como é o caso dos estudos de gênero, resultando na sua marginalização e sileciamento na Academia.

Para citar um exemplo lembrado pelas autoras [SILVA; LINHARES; MELO, 2019], J. A. Tickner [1997] argumenta que uma das principais razões para as barreiras entre os estudos feministas e os de Relações Internacionais reside nas diferenças ontológicas e epistemológicas intransponíveis entre estes. Conforme explicita True (2005), os estudos feministas em RI surgiram na década de 1990 com a proposta de rejeição à suposta neutralidade de gênero da política internacional, passando a introduzir “gênero como uma categoria empírica e como um instrumento analítico relevante para o entendimento das relações de poder em âmbito global” [SILVA; LINHARES; MELO, 2019, p.65]. Apesar disso, o desenvolvimento dos estudos de gênero das Relações Internacionais ainda enfrenta dificuldades e barreiras originárias.

 

O Feminismo Islâmico: esteriotipização e representação

O feminismo islâmico é um movimento recente e pouco explorado pelas correntes mainstream dos estudos feministas e dos estudos internacionais. Para Lima [2014], o feminismo islâmico é um resultado do encontro entre o feminismo secular e os movimentos de mulheres pela reislamização que, na atualidade, já se encontra presente na maior parte das sociedades muçulmanas, inclusive aquelas nas diásporas, principalmente, nas dos EUA e Europa [LIMA, 2014, p.676 apud SILVA; LINHARES; MELO, 2019, p.61].

Sendo assim, procura-se oferecer cabedal conceitual para a compreensão holística de tal movimento, a fim de preencher esta lacuna e superar os estereótipos comumente associados à sociedade muçulmana. Como abordado por Silva [2008], desde o surgimento dos primeiros textos sobre mulheres islâmicas na literatura feminista ocidental, é enfatizada uma discrepância latente entre o nível dos valores institucionais e o da prática real, nomeadamente ao nível da sexualidade, o que reflete os esteriótipos associados à religião Islâmica.

Os estereótipos normalmente nascem do olhar ocidental ao Oriente Médio, que enxerga a mulher muçulmana como uma mulher sem agência, necessitada de “salvação”, e, em contrapartida, a feminista ocidental como sua salvadora. Cabe salientar que o objetivo do feminismo islâmico não é que o Ocidente fale por ele, mas sim repensar as interpretações do Islã que levam a práticas patriarcais, associando, assim, religião e a busca por direitos.

No contexto anteriormente apresentado dos estudos feministas, o feminismo no Oriente Médio se bifurca em duas vertentes: o feminismo secular e o feminismo islâmico. Não nos delongaremos sobre o feminismo secular, mas cabe sublinhar que trata-se de um movimento surgido ao final do século XIX com uma narrativa progressiva de gênero e de nação [VIEIRA, 2018, p. 24]. É graças à sua consolidação, tanto em países de maioria muçulmana quanto em países de comunidades minoritárias, que o feminismo islâmico encontrou solo fértil para crescer na década de 1990.

Em termos conceituais, feminismo islâmico é: “o discurso e prática articulados dentro do paradigma islâmico” [BADRAN, 2009, p. 242], isto é, a conciliação da busca por igualdade, direitos e justiça e a prática religiosa do Islã. Consoante o retorno às identidades culturais e, neste caso, à identidade religiosa do pós-colonialismo, o feminismo islâmico vai de encontro ao eurocentrismo do feminismo ocidental, que prega a adoção universal de suas reivindicações como as únicas possíveis [LIMA, 2017, p. 71].

Alguns breves apontamentos que corroboram com os esteriótipos citados devem ser abordados: primeiro, o Islã não é um universo homogêneo de significados, na medida em que traz em si tradições bastante diversificadas, que inclui grupos (sunitas, xiitas, carijitas) com particularidades em suas crenças [FRANCO, 2016, p. 85]. Além disso, o próprio feminismo islâmico tampouco é homogêneo, já que poderia ser caracterizado em seu estágio atual como uma série de mulheres islâmicas de nacionalidades distintas, clamando por transformações nas interpretações do Corão no que diz respeito ao papel das mulheres nas sociedades, assumindo uma separação entre religião e cultura [FRANCO, 2016, p. 85]. 

Outro ponto já mencionado mas que deve ser frisado é o fato de que o feminismo islâmico enfrenta o isolamento político dentro do feminismo secular, já que grande parte deste vê a religião como a principal fonte de opressão contra a mulher e supressão de direitos humanos básicos, como a liberdade sexual. Deve-se reconhecer que a literatura sobre gênero associa as questões de autonomia e emancipação feminina a premissas seculares e universais [SILVA; LINHARES; MELO, 2019] deixando de lado de reflexões que abordem as relações específicas sobre mulher, religião e autonomia e, nesse sentido, marginalizando o feminismo islâmico, que aborda esses últimos temas.

Conceito que deve ser lembrado em se tratando dos esteriótipos da mulher muçulmana é a associação do Islã a Oriente e, dessa forma, a lugares bárbaros, exóticos e que causam estranhamento, na percepção do conceito de Orientalismo que Edward Said apresentou em sua obra clássica Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente [2007] [FRANCO, 2016, p. 85].

É sabido que nas comunidades muçulmanas o espaço público e social é predominantemente masculino. Ao contrário do que o feminismo ocidental prega, o patriarcalismo muçulmano não está preconizado nas escrituras sagradas islâmicas, mas é, na verdade, fruto da sua interpretação distorcida. Segundo Muñoz: “as sociedades ocidentais tornam-se tendenciosas quando não entendem que o problema das mulheres no Islã não é religioso, mas sim de uma religião usada por uma sociedade patriarcal” [VIEIRA, 2018, p. 13]. Sendo assim, o feminismo islâmico propõe a articulação entre a busca por direitos sociais e a vivência religiosa, indispensável quando pensamos em culturas muçulmanas. Além disso, deve-se lembrar que dentro do feminismo islâmico há correntes que questionam os fundamentos da religião a partir de perspectivas internas, enfatizando que os papéis sociais dos homens e mulheres na família e na sociedade e as desigualdades de gênero não vêm do Corão, mas sim da dinâmica social aprendida culturalmente [FRANCO, 2007, p.87].

O movimento se apoia no princípio corânico de igualdade entre homens e mulheres, princípio esse destorcido e impedido por costumes patriarcais [BADRAN, 2009, p. 247]. A igualdade é clamada no Corão desde a narração da criação da humanidade, na Sura 4:1, que conta que Adão e Eva foram criados por uma mesma essência, a nafs wahida, o que os tornou incondicionalmente iguais. Na sura 9:71, a igualdade é novamente exaltada na medida em que afirma que homens e mulheres crentes são aliados uns dos outros. Homem e mulher, então, são atores complementares na construção binária da criação da humanidade.

Apesar disso, a interpretação prática dos escritos sagrados apresenta um padrão masculino, levando à condição de subjugação da mulher. Pode-se percebê-lo na Sura 4:34, em que diz que: “os homens têm autoridade sobre as mulheres, porque Alá fez um superior à outra”. Essa Sura é usada para justificar a autoridade e a superioridade do homem, quando, na verdade, revela a diferença biológica entre os sexos, responsável pela perpetuação da espécie [BADRAN, 2009, p. 248].

A partir disso, o feminismo islâmico procura transcender a interpretação masculinizada do Corão estabelecendo uma nova hermenêutica essencialmente feminista. Nessa lógica, Badran [2009, p. 248] elenca os objetivos da nova hermenêutica como sendo: revisar os versos sagrados para corrigir narrativas distorcidas que justifiquem a superioridade masculina; citar os versos que enunciam a igualdade de gênero e desconstruir os versos que elucidam a diferença entre homens e mulheres, comumente usados para justificar a dominação dos homens. Nesse sentido, como corrobora Franco [2016, p. 87], o argumento do feminismo islâmico é que a religião islâmica não seria um modelo que incita a subjugar as mulheres, mas sim os modos de interpretar e vivenciar as fontes religiosas é que promovem a desigualdade e a submissão.

O feminismo islâmico se apoia na metodologia clássica de interpretação do Corão, itjihad e tafsir, associada às ciências sociais, como história, antropologia, sociologia e literatura, para construir sua hermenêutica [BADRAN, 2009, p. 247]. Criar uma interpretação feminista dos escritos sagrados é a maneira encontrada para valorizar as questões femininas e superar a estrutura patriarcal.

A má interpretação ocidental das escrituras corânicas leva à distorção do Islã, considerado muitas vezes como opressor em relação às mulheres. É importante ressaltar que fé religiosa e prática são distintas e responsabilizar a religião per se pelas desigualdades de gênero é uma atitude reducionista. O feminismo colonial secular vê as mulheres muçulmanas como vítimas da religião, que, portanto, necessitam ser salvas. O ato de encobrir os cabelos é frequentemente associado à opressão das mulheres e à inferioridade das sociedades islâmicas [AHMED, 1992, p. 152]. Porém, vincular a prática religiosa à opressão e indicar o modo de vida ocidental como “correto” e “libertador” é ignorar a importância da religião para uma porção sociedades, desprezando, assim, o relativismo cultural antropológico.

Da mesma maneira que sociedade secular não implica necessariamente na igualdade entre mulheres e homens [VIEIRA, 2018, p. 12], a religião não deve ser vista como supressora de direitos. A estigmatização da mulher muçulmana como sujeito sem agência é, como já mencionado, resultado da interpretação distorcida dos escritos sagrados islâmicos. A violência doméstica, por exemplo, é essencialmente anti-islâmica, mas muito comum. Assim, a revisão das Suras, bem como a desconstrução dos paradigmas patriarcais são alguns dos mecanismos do feminismo islâmico para superar o patriarcalismo.

Ademais, o feminismo islâmico tenta também combater a retórica reducionista ocidental de tentar “salvar” as mulheres muçulmanas. A antropóloga Abu-Laghod [2012, p. 465] afirma que: “projetos de salvar outras mulheres dependem de, e reforçam, um senso de superioridade por parte dos ocidentais”. Ao salvar alguém, salva-o de algo e para algo. Ao assumir o papel de salvador, assume-se também a superioridade daquilo para o que está salvando [ABU-LAGHOD, 2012, p. 465].

 

Considerações finais

Para compreender o feminismo islâmico com um olhar ocidental é preciso aceitar a diferença cultural como primeiro pressuposto. O feminismo islâmico prega a igualdade total entre homens e mulheres, tanto na esfera pública quanto na privada; preza pela capacidade feminina de assumir altos cargos políticos, religiosos, jurídicos, entre outros, e é a favor do empoderamento feminino dentro do cenário religioso. O feminismo islâmico atende a variados gêneros, cores e religiões. Como posto por Badran [2009, p. 250]: “o feminismo islâmico é para todos”.

Além disso, precisa-se considerar o isolacionismo político do feminismo islâmico em relação ao movimento feminista secular, pelo fato de que aquele dialoga com questões já superadas por este, como o debate sobre a autonomia feminina. Outro fator importante abordado neste trabalho diz respeito aos esteriótipos associados ao feminismo islâmico no ocidente, que o colocam num lugar de resistência ao ideal ocidental de secularização. Por fim, devemos lembrar ainda as dificuldades e percalços da área dos estudos de gênero dentro da área de Relações Internacionais. Apesar de algum avanço, há muito a ser debatido e produzido, em especial se pensarmos o feminismo islâmico e o debate sobre o secularismo na Academia.

 

Referências bibliográficas

Fabiane Assaf é historiadora (UFF), graduanda em Relações Internacionais (UFF/UNIP), mestranda em Estudos Estratégicos (PPGEST/UFF) e pesquisadora do Centro de Estudos Asiáticos da UFF (CEA-UFF). Coordenada o Grupo de Trabalho em Oriente Médio do CEA.

Anna Tereza Scartezini é graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal Fluminense e membro do Grupo de Trabalho em Oriente Médio do Centro de Estudos Asiáticos – UFF.

ABU-LAGHOD, Lila. As mulheres muçulmanas precisam realmente de salvação? Reflexões antropológicas sobre o relativismo cultural e seus Outros. Estudos Feministas, Florianópolis, 20(2): 256, maio-agosto/2012, p. 451-470.

AHMED, Leila. Women and gender in Islam: historical roots of a modern debate. Yale University press, 1992.

BADRAN, Margot. Feminism in Islam: secular and religious convergences. London: Oxford Press, 2009.

FRANCO, Clarissa de. Feminismo Islâmico face ao Feminismo Secular: uma nova consciência de gênero de um oriente que rejeita a ocidentalização. Revista Último Andar (ISSN 1980-8305), n. 27, 2016.

LIMA, Cila. Feminismo islâmico: mediações discursivas e limites práticos. 2017. Tese (Doutorado em História Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Acesso em: 29 jun. 2020.

SILVA, Ana Paula Maielo; LINHARES, Monique de Medeiros; MELO, Rachel Emanuelle Lima Lira Faria de. Por uma virada pós-secular: o feminismo islâmico e os desafios aos feminismos (seculares) em Relações Internacionais. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, Dourados, v.6. n.11, jan./jun. Disponível em: http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/moncoes

SILVA, Maria Cardeira da. As mulheres, os outros e as mulheres dos outros: feminismo, academia e Islão. Cadernos pagu (30), janeiro-junho de 2008:137-159

VIEIRA, Maria Eduarda Antonino. Religião, feminismo e islã: perspectivas do feminismo islâmico. Mandrágora, v. 24, n. 2, 2018, p. 5-38. Acesso em: 28 jun. 2020

25 comentários:

  1. Bom dia. Achei interessante o seu texto, pois convoca para a reflexão sobre os nossos próprios pressupostos universalistas. Uma pergunta, no entanto, ficou da leitura no nível teórico-metodológico dado a impossibilidade de desenvolver adequadamente as ideias em uma texto sintético: algumas vezes no texto aparece a ideia de "interpretação distorcida", o que pode sugerir que existe uma interpretação adequada ou correta dos textos. Logo em seguida, destaca-se que a questão não é a religião, mas a sociedade patriarcal que guia a interpretação do texto religioso. O que também permite o seguinte questionamento: mas uma sociedade patriarcal não produz um texto também ele patriarcal, mesmo que existe diferenças entre os patriarcados de outrora e de hoje? Talvez a questão que faço seja a seguinte: se o texto do Corão permite uma leitura que frisa tanto a igualdade entre homens e mulheres quando na sua desigualdade, a ideia de "interpretação distorcida" não seria inadequada para exprimir essa tensão e a hermenêutica que deriva dela?
    Leandro Mendanha e Silva

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    1. Boa noite, prezado Leandro. Eu e a Anna Tereza agradecemos o seu comentário. Consideramos de fato que afirmar que existe uma única interpretação correta de uma escritura sagrada é muito difícil. Dentro do Islã existem escolas, cursos superiores e doutores na área de interpretação do Corão. Também consideramos importante ressaltarmos a diferença entre o Islã e o Islã Político. Quando mencionamos que há uma interpretação distorcida dos texto sagrado, quisemos dizer que existe uma aplicação da religião na política para sustentar o grupo hegemônico que está no poder, grupo formado por homens majoritariamente. Aqui fazemos referência às abordagens que os grupos fundamentalistas fazem do Corão, que pode ser entendida no Ocidente de forma equivocada como representante de ideais da maioria dos povos islâmicos. Uma segunda referência ao uso da palavra "distorcido" é a atribuição que o feminismo ocidental faz das mulheres islâmicas, tendo por base trechos sagrados do Corão a partir dos seus próprios pressupostos, distorcendo o que essas pessoas têm de fato a dizer sobre a própria religião, liberdade feminina e outros temas, ou seja, falar por elas e não ouvi-las. De toda forma, concordamos que o uso da palavra "distorcido" é um uso referencial, isto é, ele pressupõe per si um padrão/referencial que parte de si, pouco preocupado com a realidade que de fato se encontra, e sim a percepção sobre aquela realidade, numa lógica orientalista, como explicitado por Edward W. Said (1978). Portanto, acatamos com alegria o seu comentário/reflexão e agradecemos o interesse em nosso artigo. Forte abraço.

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    2. Obrigado pela resposta, Fabiane. Obviamente, estudiosas que são, imaginei o uso crítico que fizeram dessa ideia, mas, dado o sintético do texto, não puderam desenvolver melhor. Agradeço por desenvolverem aqui. Abraço.
      Leandro Mendanha e Sivla

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  2. Olá. Gostei muito de seu texto. Estou começando a estudar uma perspectiva decolonial e achei que o seu texto contribui muito.
    Sobre o empoderamento feminino: como ele acontece na sociedade islâmica? Além da interpretação diferenciada feita por grupos feministas?
    E como esse tema é tratado nessas comunidades- há debates em escolas? Ou fica em grupos formados por mulheres?

    Obrigada,
    Paola Rezende Schettert

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    1. Olá, Paola, ficamos felizes com seu comentário e contentes de termos contribuído com seus estudos.
      O ativismo feminista acontece por meio da educação islâmica, partindo do pressuposto de que um conhecimento maior sobre as fontes religiosas nos permite evidenciar, nelas, princípios de direitos humanos e estabelecendo, assim, uma completa compatibilidade do Islã com a modernidade (ver LIMA, 2017). Lembrando que o grau de fundamentalismo varia bastante nas sociedades muçulmanas - assim como em qualquer outra - e, portanto, o feminismo pode ser mais ou menos difundido a depender disso. Também há várias ONGs que atuam criando escolas, clínicas, centros de empoderamento de mulheres empreendedoras etc (ver LIMA, 2017). Salientamos, porém, que ainda é um movimento pequeno e, por isso, parece ainda ser mais restrito a ambientes acadêmicos ou em grupos sociais que estejam mais abertos a ele.

      Um abraço.

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  3. Primeiro, gostaria de parabenizá-las pelo excelente texto! Muito bom =)
    Após ler o texto fiquei com algumas curiosidades, gostaria de saber de vocês se há alguma referência de mulher ou grupo no que diz respeito a luta do feminismo islâmico e essa questão da “salvação” da mulher feminista ocidental sobre as mulheres do oriente, como as feministas do islã enxergam isso? É possível ser feminista e fazer parte dessa religião?
    Obrigada!
    Ass: Virgine Borges

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    1. Olá, Virgine, ficamos felizes com seu comentário.
      Ser feminista e ser muçulmana é totalmente possível! O feminismo islâmico acredita que o problema da opressão das mulheres não está na religião - que, pelo contrário, prega a igualdade entre homens e mulheres. A subjugação da mulher, para elas, é consequência da utilização "equivocada" das escrituras sagradas pelo grupo que está no topo da hierarquia social: os homens. Assim sendo, as feministas islâmicas não lutam pelo fim da religião, mas sim por sua conciliação com a luta por direitos iguais entre todos.
      Aqui no Brasil, recomendamos a leitura da Profª Drª Francirosy Campos Barbosa e da Profª Drª Cila Lima. De estrangeiras, recomendamos a leitura de Margot Badran, Leila Ahmed e Lila Abu-Laghod.

      Um abraço.

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  4. Olá Fabiane e Anna.
    Parabéns pelo trabalho de vocês. Foi muito bom para as minhas reflexões sobre a temática. Vai ser miito bom para as minhas pesquisas.
    No texto foi falado que precisa-se considerar o isolamento político em relação ao movimento feminista secular pelo fato de que aquele dialoga com questões já superadas por este como o debate sobre autonomia feminina. Também há a questão da interpretação da religião.
    Todas essas ligações me fizeram refletir se no Brasil a questão das mulheres que são das religiões, em especial as evangélicas, não acabam por passar por situação parecida devido as distorções e com isso a imposição da figura masculina. Será que no Brasil o debate sobre autonomia feminina já foi superado como um todo? Achas que ainda há necessidade de aprofundar estudos do feminismo e da religião aqui no país também?

    Ass: Daniela Jaques Roos

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    1. Olá, Daniela

      Agradecemos pelo seu comentário. O feminismo secular e o feminismo islâmico assumem posições distintas em se tratando de questões religiosas porque o feminismo secular considera que essas questões já foram superadas no ocidente. O Feminismo Secular a que a gente se refere é um movimento de mulheres brancas, eurocêntrico e que preza pelo abandono da prática religiosa no ativismo feminista. Por isso usamos este na comparação com o feminismo islâmico. Outro ponto a se salientar é a compreensão do peso que a religião tem nessas sociedades. No mundo muçulmano a religião é a base normativa da sociedade, o que significa dizer que todos os aspectos da sociedade são definidos por esta, o que alguns autores apontam como "aspecto totalizante do islã". Totalizante no sentido que, diferentemente do que acontece no Ocidente com a secularização, o Islã abarca uma série de aspectos sociais e a própria política, ou seja, determina a vida dos indivíduos. Portanto, o que queremos dizer é que histórica e culturalmente a base dessas sociedades é radicalmente diferente. No caso do debate sobre o Brasil, a autonomia feminina e os estudos nessas áreas, consideramos que, sim, muitas opressões e hábitos sociais considerados represssores nas sociedades ocidentais têm uma origem na religião, o que reflete a herança religiosa na nossa sociedade. Em suma, consideramos crucial o debate sobre o islã político e a observância atenta da importância da religião no ocidente e no oriente, além da estruturação dessas sociedades. Consideramos também que ainda há sim a grande necessidade de debatermos mais academicamente esses conceitos e áreas.
      Indicamos o artigo "O impacto do feminismo sobre o estudo das religiões", de Maria José Rosado, disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332001000100005&lng=en&nrm=iso

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    2. Olá. Buscarei pelo artigo indicado com certeza.
      Muito obrigada pelo esclarecimento e pela atenção.

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  5. Olá Fabiane e Anna. Parabéns pelo texto.
    A temática é extremamente necessária, mesmo dentro de grupos feministas ocidentais que já existem.
    Levando isso em conta, como vocês percebem o diálogo/recepção entre o feminismo ocidental e o feminismo islâmico? Indicam alguma referência que trate do assunto?

    Obrigada

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    1. Olá, Nina

      Ficamos felizes com o seu comentário. Recomendamos a leitura do artigo "FEMINISMO ISLÂMICO FACE AO FEMINISMO SECULAR: UMA NOVA CONSCIÊNCIA DE GÊNERO DE UM ORIENTE QUE REJEITA A OCIDENTALIZAÇÃO" de Clarissa de Franco (disponível em https://revistas.pucsp.br/ultimoandar/article/view/27095). Como apresentado em nosso texto, citando o resumo da Clarissa: "o Feminismo Islâmico clama por transformações nas interpretações do Alcorão no que se refere ao papel das mulheres, assumindo que a desigualdade entre homens e mulheres, comumente presente em práticas islâmicas, não seria um atributo dos textos sagrados, e sim um aspecto cultural e interpretativo". A partir desse pressuposto devemos compreender a relação entre o Feminismo Secular e o Feminismo Islâmico. Outro pressuposto incontornável dessa relação é a ideia de ocidentalização, ou seja, "a visão homogeneizadora do Ocidente acerca do Islã, como se este fosse um todo coeso de pessoas que vivem rigorosamente valores mulçumanos" (FRANCO, 2016, p. 85). Disso resulta o fato de que o Islã e, por consequência, as mulheres islâmicas sejam vistas, como defende Franco (2016) de maneira estereotipada no ocidente, numa mistura de exotismo, indignação e estranhamento que foi histórica, política e culturalmente construída. Devemos pontuar, ainda, que dentro do próprio movimento do Feminismo Islâmico existe uma busca por questionar os fundamentos da religião a partir da perspectiva interna. Questiona-se, por exemplo, os papéis sociais dos homens e mulheres na família e na sociedade, e a justificativa é a de que a desigualdade não é a proposta do Corão, mas sim da dinâmica social aprendida culturalmente. O Feminismo Secular, por sua vez, opera de modo distante da realidade e agenda do feminismo islâmico, já que este último ainda pensa o lugar histórico e social das mulheres, antes de outras reflexões acerca do sexo e do gênero. Isso coloca, inevitavelmente, como apontamos no nosso texto, o Feminismo Islâmico num lugar de isolamento político/desconfiança por parte dos pares de mulheres feministas seculares ocidentais, justamente porque o Feminismo Islâmico guarda vínculo com uma religião identificada de forma estereotipada e genérica no imaginário ocidental, como fundamentalista e mantenedora de práticas misóginas e machistas, desconsiderando tudo o que falamos acima, o fato de que há, sim, críticas internas ao machismo na religião, mas que essas práticas se vinculam ao hábito sociocultural, e não ao texto sagrado. Nesse sentido, consideramos que o diálogo entre o Feminismo Secular e o Feminismo Islâmico é, sim, possível, mas que essas dissonâncias de raízes conceituais e históricas precisam ser superadas, o que pode levar um tempo, embora seja necessário e urgente. Abraço!

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  6. Boa noite, parabéns pelo texto. Eu entendi pela leitura que um dos principais motivos para deixarem o feminino islamico de lado é interpretação errada de que as mesmas precisam ser salvas por conta da religião porém o que pcorre é a má interpretação do Corão usado a favor do patriarcado. Depois que entedemos isso vem a seguinte questão: como podemos fazer com que ele seja mais explorado e estudado? Ele sendo recente, como falado no texto, influência nessa confusão de qual é a luta dessas mulheres?


    Bruna dos Santos Ribeiro

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    1. Olá, Bruna

      Exato, defendemos no texto que um dos motivos do isolamento político do Feminismo Islâmico se deve à associação que é feita de forma equivocada da religião às práticas misóginas e machistas, quando, na verdade, essas práticas foram social e culturalmente construídas, e não fruto do texto sagrado. Esse entendimento não ocorre no ocidente, de modo que há uma estereotipação tanto da religião quanto das mulheres islâmicas e uma associação destas ao exotismo, barbárie e outras coisas mais. Esse entendimento se reflete no modo como as feministas seculares ocidentais veem e julgam o Feminismo Islâmico. Sem dúvida, fruto desse isolamento político em relação aos outros movimentos políticos e ao próprio Feminismo Secular, resulta o fato de que o Feminismo Islâmico é pouco estudado ainda, infelizmente. Porém, devemos mencionar o fato de que os estudos sobre gênero e feministas veem crescendo nos últimos anos e tomando espaços nas universidades e centros de pesquisa, como é o nosso caso ao propormos esse texto. Consideramos que, além do fato de que você mencionou, do Feminismo Islâmico ser recente (ou de este recentemente ter despertado atenção no ocidente, já que movimentos internos questionadores de alguns aspectos do Islã já existem há mais tempo), influencia de forma mais latente o entendimento que há no ocidente do que é ser islâmico e, mais do que isso, ser uma mulher muçulmana. Precisamos, sem dúvida, ir além desses estereótipos, enfrentá-los e combatê-los social e culturalmente para avançarmos nos estudos e debates. Uma forma de fazer isso é a Academia e os estudos nas universidades e escolas, sem dúvidas. Uma abraço!

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  7. Parabéns pelo texto! É preciso coragem para falar de temas que, do ponto de vista do senso comum já estão relacionados á tragédias, radicalismos e fundamentalismos, e apenas isso, infelizmente. Quem olha do Ocidente acaba por não compreender muitos aspectos e diferenças internas do Oriente, isso acaba por acontecer também com o feminismo, acredito que para muitas pessoas seja um tanto novo e difícil pensar num feminismo islâmico, justamente pela imagem que têm do Islâ. Venho mesmo é agradecer pelo texto de vocês, já leio sobre isso há algum tempo, vocês pontuaram bem sobre a religião não ser tomada como homogênea. O texto promove uma discussão que abre a mente de muitos, que têm a imagem de estereótipos e que acredito, após a leitura, terão estas questões mais esclarecidas.
    Pergunto se vocês sabem de algum documentário ou filme que trate desta discussão acerca do feminismo islâmico?
    Obrigado!

    Atenciosamente;
    FRANCISCO LUCAS GONÇALVES DOS REIS.

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    1. Olá, Francisco. Ficamos extremamente felizes com o seu comentário e com a superação e reflexão sobre os estereótipos que trouxemos no nosso texto. Recomendamos a fala "Feminismo e Islam. Una aproximación decolonial" de Sirin Adlbi Sibai, PhD em Estudios Internacionales Mediterráneos na Universidad Autónoma de Madrid (https://www.youtube.com/watch?v=7LYchbCEzTk&t=12s&ab_channel=TEDxTalks). Indicamos fortemente, ainda, as falas da professora Dr. da USP e antropóloga Francirosy Campos Barbosa Ferreira no YouTube, em especial a seguinte: "Mulher e Islam - Seria o Islam misógino?" (https://www.youtube.com/watch?v=6_5F6LW1mco&ab_channel=Arresala). Indicamos, ainda, o canal "Fala, Fatuma", em especial o vídeo "11 coisas que toda muçulmana já ouviu" (https://www.youtube.com/watch?v=KjED5XMHZlM&ab_channel=Fala%2CFatuma). Abraço!

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  8. Boa tarde. Excelente discussão. Parabéns pelo texto. Observei que atualmente existem muitas mulheres islâmicas que utilizam as redes sociais, em especial o Instagram e o Tik Tok, para desconstruir a imagem estereotipada e difundida pelo ocidente. Elas nos propõe a pensar importância da a mulher na cultura mulçumana, o que o Alcorão diz sobre o feminino e como distorcemos a participação feminino no mundo islâmico.
    As. Talyta Marjorie Lira Sousa Nepomuceno

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    1. Olá, Talyta. Muito obrigada! Ficamos felizes com o seu comentário. É verdade. Essa atuação nas redes sociais é muito importante para superar esses esteriótipos de que falamos. Indicamos fortemente as falas da professora Dr. da USP e antropóloga Francirosy Campos Barbosa Ferreira no YouTube, em especial a seguinte: "Mulher e Islam - Seria o Islam misógino?" (https://www.youtube.com/watch?v=6_5F6LW1mco&ab_channel=Arresala). Indicamos, ainda, o canal "Fala, Fatuma", em especial o vídeo "11 coisas que toda muçulmana já ouviu" (https://www.youtube.com/watch?v=KjED5XMHZlM&ab_channel=Fala%2CFatuma), mas há vários outros excelentes em que ela explica vários aspectos do Islã. Um abraço!

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  9. Parabéns pelo texto!
    Pela leitura leve e extremamente necessária!
    E justamente por ser uma temática delicada de explicitar, me refiro tanto às complexidades da temática como o seu papel enquanto escritora, gostaria de saber como você lidou com a sua parcialidade ao escrever, com o local de fala do Feminismo Islâmico frente ao ocidental, e ao seu olhar subjetivo.


    Atenciosamente:
    Ananda Lays Costa Rodrigues

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    1. Olá, Ananda. Muito obrigada por seu comentário e por sua pergunta interessantíssima.

      Tanto eu quanto a Fabiane somos da área de Relações Internacionais e estudiosas em Oriente Médio. Eu, em particular, conduzo minhas atuais pesquisas no campo de gênero nas RI. Assim, acredito que, apesar de não possuirmos o local de fala como mulher muçulmana, entendemos a importância da relativização cultural e da subjetividade na pesquisa. Quando estudamos uma cultura tão distante da nossa, precisamos abandonar o que entendemos como certo/errado e nossas ideias preconizadas sobre o desconhecido, para que nossas análises científicas se aproximem ao máximo da "realidade". Não queremos, com o texto, falar em nome de um grupo ao qual não pertencemos, mas sim contribuir com o aumento de sua visibilidade e da compreensão sobre ele. Como bem posto por Margot Badran, "o feminismo islâmico é para todos!"

      Um abraço!

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  10. Boa noite.
    Amei o seu texto, importante e necessário!
    Considerando as diferenças entre o feminismo ocidental e islâmico. É possível traçar semelhanças nos ideais de luta política de ambos os movimentos em pleno século XXI?

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    1. Olá, Celimara. Agradecemos muito seu comentário positivo!

      É possível traçar semelhanças nos ideias de luta em todos os feminismos, uma vez que a busca por direitos iguais é a premissa comum a todas as correntes. Sendo assim, o feminismo islâmico e o feminismo secular ocidental se afastam no que concerne às questões religiosas: enquanto o feminismo secular propõe o abandono de toda a fé religiosa na luta feminista, o feminismo islâmico propõe a conciliação dos dois. Tirando isso, os ideais são os mesmos: busca por direitos iguais entre todos.

      Um abraço!

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  11. Olá Fabiane e Anna Tereza!

    É sabido que a língua árabe conserva margens interpretativas em si própria, que há uma complexidade no árabe clássico onde muitas interpretações são feitas sobre palavras e contextos. Dessa forma imaginamos uma dificuldade ainda maior entre as mulheres de língua não-árabe para lidar com os textos corânicos, de diferentes escolas de jurisprudência e etc. Há um esforço entre as mulheres muçulmanas por uma coesão de movimento, uma unidade por uma essência de um 'feminismo islâmico' nesse sentido? Uma fonte ou linha de interpretação específica?

    Rafael Maynart

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    1. Olá, Rafael.

      Sem dúvida, há, sim, a questão linguística para pessoas de língua não-árabe, mas não insuperável. Há iniciativas e cursos, inclusive online, que nos auxiliam nesse processo. Olha, a partir da nossa perspectiva podemos observar uma pluralidade grande de origens dentre as mulheres muçulmanas, e certa fala consensual a respeito do incômodo sobre como são vistas as mulheres muçulmanas no ocidente, mas falar em unidade, dada a expansão do Islã em todo o mundo, é sempre complicado. O que podemos dizer é que há, hoje, um movimento online de mulheres muçulmanas que tentam desmistificar os estereótipos por meio das mídias sociais. Para citar dois exemplos, apresentaríamos o canal "Fala, Fatuma", em especial o vídeo "11 coisas que toda muçulmana já ouviu" (https://www.youtube.com/watch?v=KjED5XMHZlM&ab_channel=Fala%2CFatuma), mas há vários outros excelentes em que ela explica vários aspectos do Islã; também indicamos fortemente as falas da professora Dr. da USP e antropóloga Francirosy Campos Barbosa Ferreira no YouTube, em especial a seguinte: "Mulher e Islam - Seria o Islam misógino?" (https://www.youtube.com/watch?v=6_5F6LW1mco&ab_channel=Arresala). Sobre as correntes do Feminismo Islâmico, citando a Margot Badran, poderíamos apontar o trabalho das acadêmicas Afsaneh Najmabadeh e Ziba Mir-Hosseini no Irã desde os anos 1990, por meio do qual as noções de um Islã desigual e misógino estão sendo superados por metodologias interpretativas das Ciências Sociais modernas. Citaríamos, ainda, a teóloga afro-americana Amina Wadud, que se tornou muçulmana por escolha e dedica sua trajetória acadêmica à releitura do Corão. Em resumo, poderíamos dizer que os muçulmanos que produzem um discurso de Feminismo Islâmico veem no Islã algo que difere dos islamistas patriarcais e as escolas religiosas patriarcais que querem impor a sua narrativa e sua interpretação da religião sobre as pessoas, e sugerem uma nova interpretação corânica. De toda forma, o alerta aqui válido, como explicitado por Badra, é o do relativismo cultural e sobre os excessos do Islã Político. Se partimos do pressuposto de que a religião faz mal às mulheres, não haverá debate, e o Feminismo Islâmico continuará isolado politicamente. Abraço!

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