Elton Cesar Cavalcante e José Raimundo Neto

 

RELIGIÃO, IDEOLOGIA, TECNOLOGIA E MILITARISMO: AS BASES PARA A CONSTRUÇÃO DO IMPÉRIO ASSÍRIO


Durante a antiguidade algumas sociedades acabaram se tornando grandes impérios, como os acadianos sob a liderança de Sargão I e Naram-Sin, os amoritas sob o governo de Hamurábi, os assírios sob o governo de Salmanasar III, Sargão II, Senaqueribe e Assurbanípal,  e os neobabilônicos sob a liderança de Nabopolasar e Nabucodonosor II.

Apesar das grandes sociedades desenvolvidas por esses povos, deve ser ressaltado o caso particular dos assírios, os quais eram um grupo de agricultores no norte da mesopotâmia e se tornaram um grande império militarizado. Sendo que os aspectos que influenciaram essa transformação abrangem diversos fatores, como a influência religiosa, as questões relacionadas a construção de uma ideologia militarista, o desenvolvimento de novos equipamentos bélicos e uma grande inovação nas táticas e estratégias militares.

 

Aspectos Religiosos

Como em todos os povos antigos, a religião possuía forte presença no cotidiano das pessoas, mas na sociedade assíria, ela também tinha um caráter militar e belicista. Nesse sentido, como mostra POZZER [2002], o rei assírio era visto como um representante direto da sua divindade Assur, o qual dava ao soberano os poderes de governar o seu povo, estabelecer o equilíbrio cósmico e utilizar a prática da guerra como modo de proteger o império dos povos vizinhos, os quais eram considerados ameaças externas a sociedade.

Assim, sob a permissão e proteção da sua divindade, os exércitos assírios implementaram uma grande política expansionista, levando para o campo de batalha várias insígnias do seu deus, pois eles acreditavam que sua divindade iria ajudá-los nos combates. Sendo que essa situação fornecia aos soldados assírios um sentimento de confiança e coragem, gerando uma sensação  de invencibilidade:

“[...] tratava-se de uma pequena figura do deus Assur, acoplada ao carro de batalha. Tais imagens eram feitas de metal e levadas para as batalhas. Este ato significava que os deuses estavam do lado dos guerreiros assírios”. [SERRES, et al., 2008, pág. 176].

Dessa maneira, torna-se perceptível como a religião foi um fator importante para a manutenção belicista da sociedade assíria, pois era uma fonte de ânimo, e garantia de vitória em todos os conflitos que eles entrassem. Porém, deve ser ressaltado que outros aspectos foram cruciais para a construção do império, como o desenvolvimento de  uma ideologia militarista dentro da sociedade.

 

Aspectos Ideológicos

Muitos fatores contribuíram para que a sociedade assíria desenvolvesse um pensamento militarista e expansionista, pois esse período histórico se encontra na transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro, a qual foi marcada por muitas migrações e conflitos. Como ressalta Silva [2012], a capacidade guerreira assíria, marcada pela extrema brutalidade e pelo militarismo social, possui suas raízes nas novas conjecturas políticas que surgiram na mesopotâmia do fim do período do bronze.

 Nessa época de transição ocorreram muitas migrações no território assírio, na medida que esses novos povos buscavam melhores terras e condições climáticas para a sua sobrevivência. Sendo que essa facilidade de ocupação das terras assírias ocorriam principalmente por causa da sua localização e das condições geográficas do solo:

 “O militarismo pelo qual a Assíria é famosa proveio de sua localização, que era extremamente perigosa, o que fazia da autodefesa o primeiro princípio necessário da sobrevivência nacional [...]. Não tendo uma proteção natural, a área era sempre estrategicamente vulnerável, por se assentar sobre as principais rotas de invasão e comércio do norte e do leste, que contornavam as montanhas para cruzar a Síria até o Mediterrâneo”. [KRIWACZEK, 2010, pág. 277].

 Assim, essas migrações ocorreram de duas formas, sendo  uma mais tranquila, com a entrada de grandes multidões pacíficas, buscando terras para sobreviver. Mas ocorreram também migrações mais violentas, baseadas em saques, ocupação e destruição do território assírio, fazendo surgir na sociedade um sentimento de repulsa pelos povos estrangeiros:

“Uma crônica assíria escrita não muito depois diz-nos que no trigésimo ano do rei Tukulti-apil-Esarra [1082 a.C.], [...] Clãs de arameus saquearam a terra, ocuparam as estradas e conquistaram e tomaram muitas cidades fortificadas da Assíria. Cidadãos da Assíria fugiram para as montanhas… para salvar suas vidas. Os arameus levaram seu ouro, sua prata e suas propriedades”. [KRIWACZEK, 2010, pág. 302].

Também deve ser ressaltado que essas migrações afetavam o aspecto econômico, pois muitos desses povos estrangeiros acabaram controlando rotas e entrepostos comerciais, os quais geravam muitas riquezas para os assírios. Segundo KRIWACZEK [2010], diversos territórios assírios foram ocupados e divididos pelos povos invasores, acarretando em um grande prejuízo econômico para essa sociedade, principalmente por causa da perda de terras férteis e do controle das rotas de comércio.

Dessa maneira, torna-se fácil compreender a formação de um pensamento belicista na sociedade, na medida que sua existência e independência eram constantemente ameaçadas por várias levas de invasões. Desse modo, os governantes,pensando em como proteger o estado e garantir o seu contínuo desenvolvimento, conceberam uma ideologia pautada em duas bases: uma constante expansão territorial e o uso da violência contra os inimigos e povos revoltosos, como instrumento dissuasor de futuros ataques e rebeliões.

Os assírios sabiam da importância de uma expansão contínua e como esse processo gerava proteção para o território nacional de agressões estrangeiras [por meio do domínio de territórios e de Estados tampões], bem como, da riqueza produzida por essas conquistas:

“[...] Assim, desde o início do século X a.C., a Assíria lançou-se  no projeto de recuperar seus territórios anteriores, devorando os reinos arameus circundantes e ampliando paulatinamente seus domínios até as fronteiras de suas posses anteriores. E no projeto de em seguida ultrapassá-los para abarcar uma área maior que a de qualquer império conhecido até então “. [KRIWACZEK, 2010, pág. 304].

Além disso, a Assíria utilizava-se de métodos extremamente brutais, como mutilações, extermínios em massa, destruição de cidades inteiras e diversas maneiras de torturas contra seus inimigos externos e em casos de rebelião interna. Porém, de acordo com SERRES [2008], essa prática de brutalidade não era feita de maneira impensável e nem espontânea, pois ela possuía forte interesse ideológico para o governo assírio.

Com essas atitudes, a Assíria conseguiu coibir muitas revoltas internas, além de guerras exteriores, pois todos que tentassem lutar contra o império, se perdessem, teriam que enfrentar um destino aterrador e horripilante, o qual não poupava a distinção de classes sociais, nem mulheres, crianças e idosos. Porque todos eram tidos como inimigos e responsáveis por desafiar o Estado assírio.

Mas para a construção e manutenção de um império forte e extenso, a sociedade assíria sabia que precisava de mais do que apenas motivos religiosos e uma ideologia pautada na militarização da população e terror psicológico dos inimigos. Seria necessário o desenvolvimento de novos equipamentos bélicos, os quais seus inimigos ainda não conheciam.

 

Aspectos Tecnológicos

Um grande facilitador na construção do Império Assírio se encontra na sua ampla utilização de armas confeccionadas de ferro, sendo que essa sociedade foi a primeira  nação a utilizar esse minério para fins bélicos. Vale ressaltar que eles também  assimilaram muitas armas de outros povos, por meio de trocas culturais com diversos Estados vizinhos.

Segundo KRIWACZEK [2010], o contato com os hititas proporcionou aos assírios o conhecimento sobre a fundição do ferro e como molda-lo para produzir armamentos. Já com os hurritas eles aprenderam sobre criação de cavalos e a produzir carruagens de guerra com rodas de aros mais eficientes do que os modelos tradicionais.  A partir desses contatos, o Império Assírio conseguiu evoluir os carros de combate, transformando-os em veículos praticamente blindados e protegidos de ataques dos inimigos:

“[...] Feitos de madeira e recobertos com uma grossa camada de couro. No seu interior havia uma espécie de depósito com pipas de água que jorravam para fora do carro, em tubos para combater possíveis focos de incêndio, pois, uma prática muito comum era o arremesso de tochas e flechas incendiárias”. [SERRES, et al., 2008, pág. 175].

Desse modo, as carruagens possuíam uma maior resistência no campo de batalha, conseguindo sobrepujar os veículos dos seus adversários. Além disso, elas vinham equipadas nas suas laterais com chapas de ferro, como um tipo simplificado de aríete, para que em caso de choque com as carruagens inimigas não sofressem avarias, e causassem muitos estragos nos veículos inimigos, tirando eles do combate. Ainda, os assírios contavam com espadas feitas de ferro, acarretando em uma maior resistência e durabilidade do que as espadas de bronze dos egípcios e babilônicos. Todavia, seu modelo de arco era o que mais impressionava:

“[...] os arqueiros estavam munidos de uma nova arma, o arco compósito, outra inovação assíria, construído pela colagem de materiais diferentes: madeira, chifres e tendões. Embora se ressentissem mais da umidade que os arcos tradicionais, feitos de um único pedaço de madeira, e exigissem uma força muito maior para ser distendidos - de acordo com alguns pesquisadores, ultrapassando a capacidade esportiva moderna -, além de necessitarem de dois homens para prender a corda, esses arcos podiam ser muito mais fortes e, portanto, mais mortíferos que a arma anterior feita só de madeira”. [KRIWACZEK, 2010, pág. 307].

A partir desse novo modelo de arco, os arqueiros conseguiam disparar flechas de longas distâncias, as quais não poderiam ser alcançadas pelos arcos tradicionais dos seus adversários, protegendo os arqueiros das setas inimigas. Já a infantaria, segundo SERRES [2008], possuía um novo modelo de couraça, o qual era considerado muito revolucionário para a região, na medida que utilizava chapas metálicas no lugar das tradicionais camadas de couro, as quais não forneciam uma grande proteção de impactos diretos de flechas e nem de golpes de espadas e lanças.

Todavia, uma de suas principais inovações se encontra no desenvolvimento de um calçado que serviria para a proteção das pernas e resistente o suficiente para os combates em qualquer terreno. Assim, os assírios projetaram a primeira bota militar, que possuía um alto nível de eficiência nos campos de batalha, além de diminuir o cansaço das marchas, por causa do seu modelo:

“[...] Em vez de sandálias, agora usavam a invenção militar assíria que poderia ser considerada uma das mais influentes e duradouras de todas: a bota de exército. Nesse caso, as botas eram calçados de couro que chegavam à altura do joelho, com solado grosso, tachões e chapas de ferro inseridas para proteger as canelas, o que possibilitava, pela primeira vez, lutar em qualquer tipo de terreno, irregular ou úmido, montanhoso ou pantanoso, e em qualquer estação, verão ou inverno. Era o primeiro exército para todos os climas e para o ano inteiro”. [KRIWACZEK, 2010, pág. 306].

Apesar de todo esse novo conjunto de equipamentos, eles eram pouco eficientes se utilizados pelos mesmos métodos de combate tradicionais. Sendo assim, os líderes militares assírios desenvolveram inovadoras táticas de ataque, as quais seriam consideradas verdadeiras revoluções na arte da guerra.

 

Novas táticas e estratégias militares

Com a utilização de armas de ferro os assírios se encontravam em vantagem sobre os Estados vizinhos. Mas, além disso, a Assíria conseguiu desenvolver diversas inovações táticas e estratégicas, que acabaram facilitando as suas vitórias:

“Se os métodos tradicionais de combate não conseguiam nem sequer deter um enxame de pastores de ovelhas, montados em camelos, os governantes de Assur se concentrariam em projetar a construir um novo tipo de máquina de guerra, uma máquina a quem ninguém pudesse resistir”. [KRIWACZEK, 2010, pág. 304].

Todos os setores do exército assírio [infantaria, arqueiros, carruagens de guerra e cavalaria] foram equipados e treinados por novas formas de combate, com muitos deles trabalhando em conjunto, acarretando em ataques rápidos, fortes e precisos. No caso das carruagens, elas possuíam uma elevada função de mobilidade do exército, na medida em que conseguiam deslocar um maior número de soldados para as principais áreas de combate:

"Cada carro era puxado por até quatro animais, e conduzido por um homem, que, à medida que progrediram as habilidades eqüestres, às vezes montava um dos cavalos e controlava os outros com um sistema de tirantes, deixando espaço na plataforma para que o arqueiro e dois escudeiros lutassem com mais liberdade. Esses homens também eram armados com lanças, espadas e machados, para que, depois do ataque inicial, pudessem descer da quadriga e combater como infantaria pesada”. [KRIWACZEK, 2010, pág. 307]

Desse modo, os exércitos assírios conseguiram desenvolver no passado um tipo arcaico de guerra relâmpago, que foi utilizada pelos exércitos alemães durante a Segunda Guerra Mundial [1939-1945]. Sendo assim, do mesmo modo que ocorreu com os alemães, os assírios obtiveram  êxitos surpreendentes nos campos de batalha e sobrepujaram seus adversários de forma rápida e eficiente. Somado a isso, havia um amplo uso de rampas, trincheiras e túneis, sobre os quais a Assíria sitiava as cidades inimigas e destruíam seus muros, abrindo passagem para o exército e sua consequente conquista.

Todavia, além de equipamentos e táticas avançadas, segundo SERRES [2008], existia uma administração estatal militarizada espalhada por todas as províncias do império, a qual fornecia os meios burocráticos para facilitar as comunicações, o recrutamento, a arrecadação de recursos, a organização dos  níveis de hierarquia e o abastecimento do aparato militar expansionista 

Desse modo, torna-se possível compreender os aspectos da sociedade assíria que os levaram a construir um dos mais poderosos e eficientes exércitos do mundo antigo. O qual possibilitou a consolidação de um império vasto, que no seu auge  se estendia do Egito e o Mediterrâneo Oriental, no oeste, até o Golfo Pérsico e os Montes Zagros, no leste, e das montanhas do Cáucaso e Antitauro, no norte, até o deserto da Arábia, no sul. Sendo que a Mesopotâmia era o centro político e administrativo do império.

Assim, diversos fatores auxiliaram na construção do Império Assírio, sendo que cada um deles tiveram suas próprias particularidades, acarretando na transformação de uma sociedade agrícola em um Estado fortemente militarizado. Sendo que seu legado na área militar serviria de modelo para as futuras civilizações:

“Aquela altura, várias gerações de imperadores haviam reformado as forças armadas assírias, transformando-as na primeira máquina de guerra verdadeiramente moderna, um modelo para todos os futuros exércitos até a introdução das armas de fogo e da mecanização”. [KRIWACZEK, 2010, pág. 305]

Desse modo, torna-se possível compreender como os assírios construíram uma das maiores e mais importantes civilizações do mundo antigo, fundamentada nas diversas e complexas relações entre os vários fatores que compunham a sociedade, como as questões ligadas a religião, geografia, militarismo, economia, política e cultura.

 

Referências

Elton Cezar Cavalcante Graduando em Licenciatura em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.

José Raimundo Neto Graduando em Licenciatura em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.


KRIWACZEK, Paul. Babilônia: a Mesopotâmia e o nascimento da civilização. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

POZZER, Katia. M. Poder, guerra e violência na iconografia assíria. Rio de Janeiro: 2011. Revista de Iniciação Científica PHOÎNIX da UFRJ, Rio de Janeiro, 17-2: 12-25, 2011. Disponível em: <http://phoinix.historia.ufrj.br/media/uploads/artigos/Poder_guerra_e_violencia_na_iconografia_assiria.pdf>. Acesso em: 03 de julho de 2020.

SERRES, Ricardo. S.P. et al. A tecnologia da guerra nos relevos neoassírios. Revista de Iniciação Científica da ULBRA, n.7, p. 169-179, 2008. Disponível em:<http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/ic/article/view/1652>. Acesso em: 03 de Julho de 2020.

SILVA, Ruan. K. Crueldade guerreira ou ideologia da guerra: imagens e estereótipos da Assíria em livros didáticos. UFRN, Natal, 2012. Disponível em: http://www.rn.anpuh.org/2016/assets/downloads/veeh/ST05/Crueldade%20guerreira%20ou%20ideologia%20da%20guerra%20imagens%20e%20estereotipos%20da%20Assiria%20em%20livros%20didaticos.pdf>. Acesso em: 03 de Julho de 2020.

10 comentários:

  1. Olá!

    Interessante reflexão traz o seu texto.

    A ideia de um Império Assírio predominantemente belicoso e cruel fundou-se em algumas visões herdadas do passado (dos autores clássicos à Bíblia hebraica) e desenvolveu-se com as descobertas arqueológicas e o deciframento dos textos em cuneiforme, a partir do século XIX.

    Ao lado dos documentos oficiais, as imagens dos relevos dos palácios assírios tiveram um papel central nessa construção.

    Entretanto, a ênfase na guerra foi, em graus variados, uma constante na história mesopotâmica. A "nação de guerreiros" não foi uma exclusividade assíria, apesar da rotulação que ainda hoje se faz.

    Partindo desses pressupostos, questiono: até que ponto a visão cruel e destruidora dos assírios precisa ser contextualizada e sopesada?

    Grato pela atenção.

    Saudações!

    Willian Spengler

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    1. Boa noite!
      Nós agradecemos pela sua participação Willian!

      Sua pergunta foi muito boa, e abre um questionamento interessante. Pois quando pensamos na sociedade assíria vem de imediato, na mente, um povo selvagem, cruel e capaz de realizar as piores violências e torturas. Sendo que essa perspectiva nós passa a impressão que eles faziam isso apenas de forma natural, como se sempre fizesse parte do cotidiano social deles.

      Porém, essa ideia vem da própria forma como entramos em contato com a cultura assíria, ou seja na escola e na universidade. Onde vemos esa civilização apenas de um modo raso, rápido e corriqueiro.

      Assim, nos é apresentado apenas o que mais marcou esse povo, ou seja, a sua violência e capacidade militar. Desse modo,existe a necessidade de uma nova reformulação da maneira de ensinar sobre essa importante civilização antiga.

      Pois, como nós mostramos no texto, houveram transformações na geopolítica da Alta Mesopotâmia (as migrações pacíficas e invasões violentas do arameus nessa região) que levaram os assírios a se transformarem de um grupo de comerciantes, agricultores e pecuaristas em uma sociedade altamente militarizada.

      Desse modo, os diversos acontecimentos locais levaram os assírios a desenvolver um sistema de defesa e proteção da sua sociedade e dos seus interesses, fazendo com que eles adotem o meio militar para alcançar seus objetivos.

      Mas também, deve ser levado em consideração que eles não eram apenas especialistas na arte da guerra e na violência. Pois deixaram para nós um grande legado de conhecimento sobre o mundo antigo, através das tábuas cuneiformes existentes na antiga Biblioteca de Nínive. A qual possuía um grande acervo de informações sobre a história, economia, religião, astronomia e ciência utilizada pelos assírios.

      Assim, percebe-se que eram um povo voltado para o conhecimento e a ciência, sendo que não vemos esse outro lado, dessa grande civilização, ser explorado nas salas de aula da educação básica e muito menos no ensino superior. Sendo que isso é uma triste realidade que permeia a educação e fortalece essa visão cheia de esteriótipos e preconceitos sobre os assírios e as demais culturas mesopotâmicas.

      Se você quiser se aprofundar nessa questão, nós recomendamos a leitura do capítulo 7. do livro Babilônia: A mesopotâmia e o nascimento da civilização, de Paul Kriwaczec. Que aborda um pouco sobre essa questão das causas do militarismo e da violência dos assírios.
      Sendo uma outra leitura muito interessante o capítulo Segundo (A Mesopotâmia até às invasões aramaicas do fim do II milênio) do livro As Primeiras Civilizações: da Idade da Pedra aos Povos Semitas, de Pierre Lévêque.
      O qual aborda a influência e transformações ocorridas na Alta Mesopotâmia, causadas pela chegada dos arameus na região.

      Esperamos ter respondido a sua pergunta, e caso tenha ficado alguma dúvida é só perguntar.

      José Raimundo Neto.

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  2. Boa Noite à Todos.
    Tenho um livro de um autor que faz uma mescla de várias coisas no que diz respeito à Religião, Ideologias e Impérios, dentre outras coisas.
    No citado livro existe Um capítulo chamado de "A Lei do Pêndulo" onde o Autor explicita que todo Império desde a Antiguidade mais remota está sujeito a uma Lei Natural do Pêndulo. No caso Impérios como Roma e o Egito Antigo que co a Oscilação do Pendulo caíram.
    A Pergunta é se essa Lei faz sentido e se os Próprios Assírios e outras civilizações conquistadoras não teriam feito parte ou sido atingidas por ela Lei conforme a oscilação do Pêndulo?
    Obrigado.
    Valmir da Silva Lima.

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    1. Boa noite Valmir!
      Agradecemos pela sua participação no nosso texto!

      Sua pergunta é bem interessante, e a resposta é sim. A história nos ensina que todas as sociedades possuem um início, uma fase de florescimento e um declínio. Assim, os assírios também passaram por essas e fases e do mesmo modo que eles se tornaram uma grande e poderoso estado na Mesopotâmia, eles também acabaram entrando em declínio.

      Sendo interessante que passaram de conquistadores a conquistados e o que mais choca é que foram derrotados e finados exatamente pelas duas nações que subjugaram com mais violência:
      A Babilônia - durante o reinado do rei assírio Senaqueribe, essa cidade foi totalmente destruída pelos assírios;
      A Média - os quais eram vistos como uma população Bárbara de nômades das estepes dos Montes Zagros (atual Irão), os quais eram obrigados a pagar elevados tributos aos reis assírios.

      Sendo que em 612 a.C. tanto Babilônicos quanto medos atacaram, saquearam e destruíram a capital assíria Nínive. Valendo ressaltar que aquilo que os assírios haviam feito no passado, com os babilônicos e medos, estava acontecendo com eles e pelas mãos desses mesmos povos que um dia foram dominados pelos assírios. Ou seja, essa seria a forma de encaixar na história da sociedade assíria a Lei do Pêndulo que você falou.

      Espero ter respondido a sua pergunta e se tiver mais alguma dúvida pode perguntar.

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    2. Professor José Raimundo muito Obrigado pela resposta.
      Realmente e ainda não tinha me atentado ao fato de algumas dessas civilizações serem subjugadas pelas nações às quais exerciam domínio.
      A questão da Lei do Pêndulo é algo que ainda preciso estudar mais a fundo que me parece um tema bem pertinente dentro da área da Hisória.
      Mais uma vez meus agradecimentos pelos esclarecimentos.
      Valmir da Silva Lima.

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  3. Olá Elton e José.

    Primeiramente, gostaria de parabenizar os dois pela agradável exposição do tema, acredito que quanto mais conhecimento gerarmos sobre esses povos que por vezes acreditamos estar tão distantes de nossa história, mais a nossa sociedade discutirá e colocará em prova algumas ideias incompletas e contraditórias que temos a respeito desses povos.

    Dito isso, gostaria de saber (se possível) como que vocês acompanham e compreendem o debate acerca desses povos do oriente, de modo especial, os assírios, no currículo escolar, e mais preciso ainda, como esse tema é exposto no livro didático?

    Ítalo Bezerra Oliveira

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    1. Boa noite Ítalo!
      Agradecemos pela sua participação no nosso texto!
      Esse simpósio virtual tem proporcionado uma grande troca de experiências entre alunos de graduação, professores e pesquisadores da área de história. Gerando uma verdadeira democratização no processo de ensino-aprendizagem. Agradeço muito a Deus pela oportunidade de participar desse evento e pela vida e trabalho de todos os responsáveis pela organização desse simpósio.

      Sobre a sua pergunta, ela é bem pertinente e toca em um assunto muito importante que precisa de mais espaço de discussão no meio educacional.

      Pode ser observado que dentro da história tem ganhado força os debates sobre a importância de se abrir espaço para o estudo na educação sobre as civilizações africanas e nativas da América. O qual é muito importante e vem ganhando alguns avanços a cada ano.

      Mas quando olhamos para o modo como são apresentadas as civilizações mesopotâmicas, elas continuam sendo expostas nas aulas e nos livros didáticos do mesmo modo (repletas de preconceito e esteriótipos, em parágrafos curtos e com informações rasas). Ou seja, não existem tentativas de revisar a maneira como essas sociedades são apresentadas no currículo escolar e nos livros didáticos.

      Sendo que a situação se torna cada vez mais preocupante quando focamos em civilizações que foram importantes para o início do desenvolvimento da sociedade humana, como os sumérios, acadianos e assírios.

      No caso dos assírios, se você pegar os livros didáticos do ensino fundamental ou médio entre 2002 e 2018, eles continuam apresentando essa sociedade como violentos, selvagens, ignorantes e extremamente cruéis. Porém, não se vêem nenhuma menção sobre o seu desenvolvimento intelectual e cultura, tendo como principal expoente os tabletes cuneiformes da importante Biblioteca de Nínive, construída pelo rei Assurbanipal II (até hoje o mais antigo centro de pesquisa e informações do mundo antigo já descoberto). O qual é a principal fonte de informação, para os pesquisadores de hoje, sobre a compreensão do mundo antigo mesopotâmico.

      Como registra Paul Kriwaczec no capítulo 7 do seu livro Babilônia: A Mesopotâmia e o nascimento da civilização, no qual esse autor coloca uma parte do chamado cilindro do rei assírio Assurbanipal II, onde o monarca expõe sua felicidade por saber ler textos acadianos e sumérios, ou seja, um rei que possuía uma certa preocupação sobre o conhecimento.

      Sendo que nos livros didáticos esse rei é mostrado apenas como um cruel guerreiro que caça leões ou extermina seus adversários. Então surge a pergunta: Por que no meio educacional não é mostrado esses dois lados desse personagem histórico?

      Por isso há a necessidade de se revisar a forma como essas sociedades mesopotâmicas são expostas nos materiais didáticos e como os professores os expõem para os alunos.

      Esperamos ter respondido a sua dúvida e caso tenha mais alguma é só perguntar.

      José Raimundo Neto.

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  4. Parabéns pelo ótimo texto Elton e José Raimundo! Ficou muito interessante! De todos os aspectos mencionados para o sucesso do Império Assírio, gostaria de destacar a questão ideológica, sobretudo quanto às migrações do fim da era do bronze e início da era do ferro citadas no texto. Podemos destacar paralelos com tempos históricos recentes de xenofobia, principalmente de grupos extremistas que fazem campanhas contra as recentes migrações que vem ocorrendo nos últimos anos do Oriente Médio para a Europa. Isso me chamou a atenção pois vemos que desde os Assírios, há 3 mil anos, a aversão ao diferente, o medo do estrangeiro, o ódio àquele que não congrega de seus valores e costumes pode causar guerras e muitas tragédias históricas. Gostaria que vocês se posicionassem quanto a este recorte que fiz sobre o tema tratado no ótimo trabalho de vocês.

    Oscar Martins Ribeiro dos Santos

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    1. Boa noite Oscar!
      Nós que agradecemos pela sua participação no nosso texto!
      A sua pergunta é muito importante, pois toca em uma das principais questões que levaram os assírios a se tornarem uma força militar quase imbatível, que é as migrações aramaicas do final do período do bronze e do início do período do ferro.
      Mas deve ser ressaltado que não podemos falar das migrações como um evento homogêneo, na medida que elas são divididas em duas partes:
      1) Migrações pacíficas: na primeira etapa se tratava de pessoas que viviam próximas às estepes do Cáucaso e dos Montes Zagros, que por causa de mudanças climáticas e disputas tribais, acabaram se dirigindo para a Mesopotâmia (principalmente na área mais ao norte, no território assírio) buscando melhores condições de vida.

      Nesse primeiro momento, eles tiveram uma convivência pacífica com os assírios, ocorrendo algumas trocas culturais e ajudas mútuas entre ambos os povos, seja sobre questões agropecuárias ou em relação a defesa.

      2) Invasões Violentas: em um segundo momento houveram muitos choques e conflitos, pois algumas tribos mais militaristas dos arameus acabaram tentando dominar as outras tribos e os assírios, por meio de diversas invasões aos territórios destes. Houveram ataques e conquistas de postos e rotas comerciais, terras férteis, plantações, cidades e aldeias.

      Desse modo, os líderes assírios se viram ameaçados e realizaram uma verdadeira revolução na sociedade, a qual passou de um pequeno grupo voltado para o comércio e a agricultura, tornando-se em uma sociedade extremamente militarista e belicosa e violenta. Utilizando esses métodos violentos como uma arma psicológica de pavor e crueldade sobre os inimigos, os assírios lançaram-se em diversas batalhas contra as tribos mais violentas dos arameus, reconquistaram os territórios perdidos e depois continuaram uma política expansionista brutal, atacando todos os povos e Estados organizados que encontravam, sem se importarem se eram pacíficos ou violentos.

      Assim, as duas fazes das migrações aramaicas foram um fator importante na história dos assírios. Se você tiver mais interesse sobre essa questão, nós recomendamos a leitura do capítulo Segundo (A Mesopotâmia até às invasões aramaicas do fim do II milênio) do livro As Primeiras Civilizações: da Idade da Pedra aos Povos Semitas, de Pierre Lévêque.

      No qual esse autor faz uma abordagem bem extensa e pormenorizada, analisando diversos aspectos ligados a esse acontecimento. Trata-se de uma ótima leitura.

      Esperamos ter conseguido responder a sua pergunta. Mas se ficou alguma dúvida pode perguntar.

      José Raimundo Neto

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