O FAZER DA GUERRA: A VISÃO DE TÁCITO SOBRE A PRIMEIRA GUERRA ROMANO-JUDAICA
O presente artigo tem como objetivo apresentar um resumo dos principais acontecimentos que marcaram a região da Judeia entre os anos de 66 e 73 d.C., ao mesmo tempo em que trabalhara a narrativa elaborada por Tácito sobre o conflito. Marco da insatisfação dos judeus, a Primeira Guerra Romano-Judaica foi composta por diversas rebeliões ao longo do território desta província imperial. De certo, várias foram as motivações que levaram ao estopim da revolta contra a dominação romana. As tensões religiosas acumuladas ao longo do tempo e o pagamento excessivo de tributos mobilizaram os grupos mais radicais em uma resistência manifesta e, por fim, em rebeliões que levaram o conflito a se arrastar por consideráveis anos.
A narrativa elaborada por Tácito sobre a Guerra Romano-Judaica do primeiro século, encontrada nos treze primeiros capítulos do Livro V das Histórias, apresenta como característica uma clara priorização pelo tema militar, em particular os marcos da movimentação das tropas romanas durantes os anos de sítio e confronto até a total subjugação dos judeus na década de 70 d.C.
De fato, Roma permanece sempre como central no que tange o foco narrativo, o cerne da obra que se propõe a descrever os conflitos do período, busca relatar o quadro provincial tendo como referência as suas reverberações no contexto geral do Império. De maneira mais específica, ao descrever a Guerra Romano-Judaica procura focar no centro da resistência, situada na cidade de Jerusalém. Não obstante, ele mesmo afirma ainda no início de sua explanação, que se deteria a “descrever os últimos dias desta famosa cidade” [Histórias, V, 2]. Neste sentido, faz-se importante observar que da obra proposta e escrita por Tácito, nos resta apenas uma parte que se encerra ainda no ano de 70 d.C., antes mesmo da conclusão da narrativa da própria destruição de Jerusalém.
Os anos próximos ao conflito, principalmente os anos de 68 e 69 d.C., marcaram um período conturbado na história de Roma; o período da guerra civil que eclodiu ao longo do Império, as diversas movimentações nas províncias, instabilidade, e em um espaço curto de tempo a ascensão e queda de três imperadores e a ascensão final de Vespasiano – conhecido como o ano dos quatro imperadores, o ano de 69 d.C. foi marcado pela queda de Galba, que havia assumido após o suicídio de Nero, em meados do ano 68 d.C., ascensão e queda de Oto e Vitélio, e enfim a proclamação de Vespasiano como Imperador.
Com o romper da revolta em 66 d.C., Tácito expõe que “a paciência dos judeus durou até o mandato de Géssio Floro, sob o qual se instaurou a guerra” [Histórias, V, 10]. A partir deste momento dá-se início às campanhas de combate à rebelião, a fim de reestabelecer o controle romano. Mas as coisas não começam bem e com a derrota de Céstio Galo, governador da província da Síria, e suas legiões, Nero designa Vespasiano para assumir a frente de batalha. Obtendo sucesso em todas as batalhas na Galileia (com destaque para o cerco de Jotapata), restava porém o centro do conflito em Jerusalém.
Mas, como narra Tácito, imerso nas guerras civis, o ano seguinte (68 d.C.) se passou sem que se entrasse em campanha de forma ofensiva contra os judeus. Depois de reinstaurada a paz na Itália, os olhares voltam-se novamente para as questões pendentes no exterior. “E o que aumentava suas iras era que só os judeus haviam recusado submeter-se” [Histórias, V, 10]. O povo recusava se submeter, a guerra se estendia, e os romanos se colocavam em maior gana pela resolução do problema.
Passado esse tempo, Tito é eleito por seu pai Vespasiano para terminar de submeter a Judeia, passando então a sitiar a cidade de Jerusalém. Segundo Tácito, Tito que já era famoso na batalha, se mostrava cada vez mais preparado; sua importância crescia, conservando sua posição de chefe. Cabe refletir nesse momento, a própria imagem construída de Tito ao longo da obra, tendo em vista que ele, nomeado chefe do exército nas investidas contra a Judeia, e filho mais velho de Vespasiano, se tornaria mais tarde o imperador (79-81 d.C.). “A construção da imagem de Tito parece ainda mais positiva, nos poucos trechos das Histórias em que ele já aparece” [MARQUES, 2013, p. 144]. De certo, apresenta a visão do autor sobre o período. E talvez seja essa narrativa também parte de uma comum propaganda dos feitos romanos.
No livro Roma: A história de um Império, Greg Woolf entende que o exército romano em certa medida lograva êxito no conter as revoltas provinciais em pouco tempo. Considera assim a revolta judaica um ponto fora da curva, na medida em que observa as características físicas do espaço como empecilho ao avanço das tropas romanas de maneira mais rápida e eficaz, o que a estende a um período mais longo de duração.
“O sistema romano, naturalmente, tinha também suas fraquezas. Uma das consequências de depender de um exército de infantaria baseado na orla do império era que ele respondia com lentidão aos desastres no interior. As tropas romanas foram em geral bem-sucedidas contra rebeliões provinciais durante os primeiros dois séculos depois de Cristo porque a maioria das rebeliões ocorreu relativamente perto das fronteiras e os rebeldes costumavam manter uma posição estacionária e não tinham fortificações. Em geral, a ordem era restaurada em questão de meses. A guerra judaica durou tanto tempo porque os judeus possuíam fortalezas” [WOOLF, 2017, p. 274].
Tais fortalezas referenciadas no trecho de Woolf, foram caracterizadas por Tácito em sua obra ao se colocar a descrever espacialmente a região e a formação das cidades. Destaca: “A cidade se encontra dentro da primeira muralha; na segunda está o palácio real, e na mais interior se encontra o Templo” [Histórias, V, 8]. Em suma, a cidade possuía três muralhas e externamente um vale, estando a cidade em um lugar elevado de difícil acesso.
No comando dos judeus estavam três chefes, que seriam responsáveis cada um deles por uma parte do território de Jerusalém. Com divisões entre si, se lançavam em luta um contra os outros, traições que levaram inclusive ao comprometimento das estruturas do movimento. A cidade estava dividida em bandos, conflituosos entre si.Vale por sua vez entender que os judeus desde a revolta dos Macabeus – ou seja, durante a dominação helenística – vinham também divididos em grupos religiosos, que constantemente estavam em conflito devido as diferentes abordagens quanto aos acontecimentos.
Ao final do trecho conservado, a narrativa passa a comentar a formação do exército de Tito diante dos muros de Jerusalém, bem como a forma de defesa naquele momento estabelecida pelos judeus. Apresentadas as legiões em formação de batalha, os judeus se posicionaram à frente das mesmas muralhas; com o lançar ao assalto da cavalaria com o apoio das coortes ligeiras, há o confronto com resultados indecisos, mas que ao fim por conta de inúmeras perdas, fazem com que os judeus recuem para dentro do recinto amuralhado. Ao todo, a narrativa fala em mais de 600 mil sitiados, entre eles homens e mulheres de todas as idades; assim, todos quantos podiam, com a mesma obstinação pegavam em armas, pois “se eles fossem forçados a abandonar sua terra natal, era maior o medo pela vida do que pela morte” [Histórias, V, 13].
Indo além do que é apresentado no texto de Tácito, que para nós só se preserva até a construção das máquinas de assédio à Jerusalém. No ano de 70 d.C., com o fim do enfrentamento em Jerusalém, a cidade fica em ruínas, e o Templo, símbolo da religião, fora destruído. Sendo esses fatos importantes para pensar as mudanças que a partir deste momento são geradas na religião e na cultura judaica. “A reação de Roma foi, naturalmente, duríssima, e podemos dizer que talvez tenha sido apenas o povo judeu a arriscar verdadeiramente o genocídio por parte de Roma” [BRIZZI, 2003, p. 142]. Mas a guerra ainda não estava totalmente finda, pois ainda restava um último importante ponto da resistência a ser subjugado, situado em Massada, à sudoeste do Mar Morto. “Três anos depois da destruição de Jerusalém ainda resistia, última extremidade independente de território judaico em cujo interior sobrevivia a perigosa chama do sonho messiânico” [BRIZZI, 2003, p. 140].
Este é enfim um episódio controverso, já que levou a um suicídio em massa dos sicários e famílias judias que ali residiam. Ademais, o ocorrido posterior em Massada é a demonstração mais clara – e no caso, a final, já que com a vitória em Massada no ano de 73 d.C. a Primeira Guerra Romano-Judaica é finalizada –, do que Tácito afirma ter irritado os romanos, a insubmissão que persistia, e persistiu no sonho de liberdade.
O fazer da guerra
Analisando de maneira mais ampla, a guerra enquanto acontecimento tem estado presente em todos os períodos ao longo da história em menor ou maior incidência, é anterior ainda ao que entendemos hoje como Estado. O historiador britânico John Keegan, em seu livro Uma história da Guerra afirma que “a guerra é quase tão antiga quanto o próprio homem e atinge os lugares mais secretos do coração humano, lugares em que o ego dissolve os propósitos racionais, onde reina o orgulho, onde a emoção é suprema, onde o instinto é rei” [KEEGAN, 1996, p. 19].
Vale aqui refletir sobre a tese defendida por Keegan, ao percebê-la intrinsecamente ligada à cultura, em contraponto com a teoria criada por Clausewitz na obra Da Guerra, onde a guerra seria uma espécie de continuação da política por outros meios. Vindo do latim, o termo cultura está ligado às ideias de cultivar, culto, cuidar. Produzida pelo homem, é o “conhecimento adquirido no ambiente não-formal do aprendiz, por imitação, condicionamento inconsciente por reinterpretação pessoal de um dado anterior” [ANDRADE et al., 1999]. Dessa forma, se faz impossível a dissociação dos traços da cultura da personalidade de cada um a ela ligado.
A partir disto, é importante ter em mente que para os romanos não existe propriamente uma separação entre o mundo civil e o militar. Ambas as esferas aparecem muito bem fundidas nesta percepção. É por isso, que parte importante para entender o pensamento romano, e o próprio fazer da guerra, é o entendimento do conceito da fides. “Nesse âmbito, de fato, eles eram contidos pelo respeito a um ethos ancestral, e bastante tenaz” [BRIZZI, 2003, p. 30]. Presente no conjunto maior da chamada mos maiorum, são os valores do homem ligados à construção de uma ética; as virtudes romanas, por excelência, buscadas. “O romano das origens parece ter construído ao redor da fides toda sua concepção de relacionamento entre os povos; e também a guerra, que representa uma fase desse relacionamento” [BRIZZI, 2003, p. 31].
É a personificação da palavra empregada, garantia de credibilidade e confiabilidade. Está ligada à ideia de compromisso, e é por isso que é ponto crucial na constituição do próprio direito romano. Dentro do exército, esse entendimento não se faz diferente, a fides é essencial entre as relações de comando onde se precisa haver dedicação e fidelidade à Roma, seus feitos e seus cidadãos, bem como confiabilidade na palavra de comando gerada.
Ou seja, a fides do exército romano está relacionada com a virtude e o favor divino que marcam sempre a grandeza de Roma quando há também o empenho coletivo para o bem de todos (opera vestra). Nas Histórias, por causa do próprio clima de guerra civil, a fides exercituum é um dos pontos fundamentais do texto de Tácito, pois é por meio dela que vemos as respostas das legiões ao comando dos generais e ao sucesso ou fracasso de cada um dos imperadores [MARQUES, 2013, p. 179].
O estudo sobre a guerra e seus desdobramentos, principalmente a partir da percepção da guerra como manifestação da cultura, nos remonta a uma perspectiva mais complexa do fazer e entender a guerra, imbricado na própria visão de mundo do romano, indissociável e repleta de valores que em certa medida moldavam o seu caráter. Por via de regra , “a história romana está cheia dessa mistura de domínio violento e ductilidade, de sentido profundo e inflexível de imperium e de talento para descobrir soluções maleáveis” [GIARDINA, 1992, p. 17].
O historiador italiano Giovanni Brizzi, em seu livro O guerreiro, o soldado e o legionário: os exércitos no mundo clássico, considera que a forma de luta judaica se deu de maneira bastante particular, tendo conseguido através da resistência armada contra Roma, ousar e realizar o que ele chama de um formidável, e perigosíssimo para Roma, salto de qualidade. Longe de ser entendida enquanto uma simples guerrilha, a Guerra Romano-Judaica mesmo tendo sido findada, e as estruturas formais rendidas, permaneceu viva nos indivíduos remanescentes [BRIZZI, 2003, p. 141]. Tanto é que anos depois, em mais duas diferentes tentativas, eclodem novas rebeliões.
No que tange o processo de conquista da Judeia, por conta de suas especificidades, se dá de maneira diferente da forma como ocorria na parte ocidental do Império. O historiador Jorwan Gama em muitos de seus estudos defende que foi o alto nível de complexidade social daquela região que contribuiu como geradora da diferença quanto às estratégias adotadas pelo Império, bem como foi também o que ao mesmo tempo gerou o turbulento período da dominação romana. “Portanto, os romanos tiveram que estabelecer estratégias de dominação diferentes daquelas que tiveram para o domínio no Ocidente” [GAMA, 2011, p.75]. Ele destaca também que a incidência de revoltas armadas no Ocidente teve menor ocorrência do que na Judeia
É preciso destacar que assim como em todo e qualquer processo de estabelecimento de relações entre diferentes povos há as diferenças culturais, e também na relação entre dominador e dominado há o diálogo de culturas, a absorção de costumes, a percepção de similaridades e ainda mais o destaque das peculiaridades de cada uma.
Não há porém como se negligenciar o fato de que a dominação romana, e anteriormente helena, até certo ponto influenciaram também a cultura daquele povo. Woolf defende que no processo de formação de um império ambos os lados são transformados, havendo um diálogo entre a cultura do conquistador e do conquistado. No caso da Judeia há que se destacar a especial autonomia da comunidade em relação aos assuntos locais; no princípio, com Herodes, essa relação se estabeleceu com alguém ligado à comunidade, que mantinha boas relações com Roma. Prestavam contas à Roma, pagavam os impostos requeridos, mas se estabeleciam com bastante liberdade na resolução dos assuntos internos, bem como no praticar da religião.
Assim, pensar a Primeira Guerra Romano-Judaica é pensar em uma resistência que se favoreceu e fortaleceu pela forma de dominação de bastante autonomia às comunidades nos assuntos locais. Enquanto na parte Ocidental do Império o processo de conquista se dava estruturalmente na implementação dos modelos de cidades, na difusão do modo de ser romano e nos ideais latinos; na parte Oriental, e no caso mais distinto da Judeia, os objetivos não perpassavam mais essas necessidades, ao passo que no período muitas cidades da região já eram bem desenvolvidas e organizadas, assim as estratégias versavam muito mais em uma afirmação de valores, e negociação colonial.
Fato marcante é a anterior dominação helena na região. Apesar de Tácito considerar em sua obra que a introdução dos costumes gregos não foi suficiente para acabar com o que ele chama de “superstição judaica”, é claro como aquele povo sofreu influências que vão desde sua forma de organização até traços na cultura da época. O judaísmo do primeiro século em seu contexto histórico-sociocultural, apresenta a complexidade da religião e da sociedade judaica em uma influência helenístico romana.
A priori, é importante entender o Mediterrâneo antigo como o primeiro sistema- mundo, imerso em um processo de mundialização e integração ao redor do mar. Civilizações sobrepostas e comunidades que viviam em uma rede de conexões, não existindo isoladamente, mas no interior de uma grande teia de relações com necessidades em fluxo contínuo. Redes de contato por onde circulavam bens, pessoas, divindades, ideias, técnicas, práticas.
Nessa conjuntura, falar sobre o Mediterrâneo e seus caminhos, nos leva a entender a Jerusalém desse período enquanto centro cultural e religioso, para onde e de onde confluíam o pertencer judaico. O Templo, por exemplo, era o marco da religião. Apesar das comunidades da diáspora terem as sinagogas como espaço de vida social e religiosa, em última instância o Templo de Jerusalém era o único espaço onde a religiosidade judaica encontrava sua religiosidade definitiva com as práticas sacerdotais e sacrificiais. “Aliás, a singularidade desta comunidade estava intimamente vinculada ao fato de que, ao contrário das grandes civilizações do Oriente, ela era basicamente identificada por uma questão religiosa: o monoteísmo” [LOBIANCO, 1999, p. 57].
Outro ponto importante de destaque é o aprofundamento do conceito de negociação cultural. Mais do que meramente uma ideia simplista de dominação baseada apenas na coerção física, esse processo tem por bases a construção de um ambiente de domínio mais estratégico de relações da elite romana com a elite provincial. Vê-se então o papel ativo das comunidades locais no destrinchar de todos acontecimentos, quer sejam eles de submissão, ou da elaboração de táticas de resistência e confronto.
Em suma, nas palavras de Jorwan Gama, concluímos:
“Portanto, apesar de fazerem parte de um mesmo contexto imperial, Roma e Judeia apresentam histórias diferentes com ritmos de desenvolvimento próprios, mas que precisam ser estudadas em conjunto para a compreensão das relações de dominação da primeira com a segunda. Preocupamo-nos, desse modo, em estudar o passado judeu antes do domínio romano, as interações com as culturas helenísticas, a sociedade judaica, as facções envolvidas na luta pelo poder judaico, as diferenças entre as facções e a fragmentação da elite judaica. Todos estes tópicos são de fundamental importância para a compreensão do desenvolvimento domínio imperial romano na Judeia” [GAMA, 2011, p. 80].
Referências
Ana Beatriz Siqueira Bittencourt é mestranda em História Social com ênfase em História Antiga pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF), sendo graduada em História pela mesma universidade; é bolsista CNPQ. Contato: bia.sbittencourt@gmail.com.
Fonte: TÁCITO, Cornelio. Libros de Las Historias. Edição bilíngue. Tradução de Joaquín Soler Franco. 2ª ed. Zaragoza: Institución Fernando el Católico (CSIC), 2015. [tradução nossa]
ANDRADE, Julieta de; SOARES, Luiz Fernando de Andrade; HUCK, Roberto.
Conceito etimológico de cultura. In: ANDRADE, Julieta de; SOARES, Luiz
Fernando de Andrade; HUCK, Roberto. Identidade
Cultural no Brasil. São Paulo: A9 Editora e Empreendimentos, 1999.
BRIZZI, Giovanni. O guerreiro, o soldado e o legionário: Os exércitos
no mundo clássico. São Paulo: Madras, 2003.
GAMA, Jorwan. A aplicação do conceito de resistência ideológica nas
moedas judaicas da primeira revolta dos judeus contra os romanos. Revista Jesus
Histórico e sua Recepção. Ano IV, Vol. 6, 2011,
p. 68-80.
______. O imperialismo romano e as especificidades da Judeia: Um quadro
teóricoconceitual. Revista Eletrônica Antiguidade Clássica 7, nº 1, 2011, p.
73-86.
GIARDINA, Andrea (org.). O homem romano. Lisboa: Editorial Presença, 1992.
KEEGAN, John. Uma História da Guerra. São Paulo-Rio de Janeiro:
Companhia das LetrasBibliex, 1996.
LOBIANCO, Luís Eduardo. O Outono da Judéia (séculos I a.C. – I d.C.): resistência e guerras judaicas sob o domínio romano – Flávio Josefo e sua narrativa. Dissertação de mestrado – Faculdade de História, Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, UFF, Niterói, 1999.
MARQUES, Juliana Bastos. Tradição e renovações da identidade romana em
Tito Lívio e Tácito. Rio de Janeiro: Apicuri, 2013.
WOOLF, Greg. Roma: A história de um Império. São Paulo: Cultrix, 2017.
Bom dia!
ResponderExcluirAna Beatriz seu texto ficou muito bom e a temática escolhida por você é muito interessante, parabéns!
Para você qual fator dificultou mais o trabalho dos romanos para acabarem com a revolta judaica:
Os rebeldes terem utilizado um eficiente sistema de guerrilhas por toda a província ou o fator geográfico, dificultando a logística, o reabastecimento e locomoção das legiões romanas. Já que a região possui características morfoclimáticas muito difíceis, principalmente em relação ao clima quente, seco e com pouquíssimos lugares que forneçam acesso ao abastecimento de suprimentos?
Pergunta:José Raimundo Neto.
Olá, José Neto
ExcluirAgradeço pelo interesse e pela pergunta. Esse tem sido o meu tema de pesquisa desde a graduação. Obrigada!
Então, sobre a sua pergunta eu considero alguns fatores interessantes a serem observados. Tácito diz que o que aumentava a ira dos romanos era que só os judeus se recusavam a se submeter (Histórias, V, 10); e este é um ponto realmente de destaque deste conflito, a longa duração da revolta talvez tenha intensificado por exemplo a reação mais enfática dos romanos na tomada de Jerusalém com a destruição do Templo e de parte da cidade. Você em sua pergunta tocou em um ponto importante, a característica do local. O historiador Greg Woolf considera que a guerra tenha durado tanto tempo por conta das fortificações ao redor da cidade (eram três, a mais exterior no limite da cidade, uma segunda cercando a parte governamental e terceira ao redor do Templo). Analisando a fonte isto parece claro na medida que o próprio Tácito pontua que a cidade de Jerusalém se situava em um lugar elevado e de difícil acesso, sendo protegida por fortificações com baluartes e defesas; diz ainda que os judeus haviam aproveitado os tempos de paz com o Império para construir muralhas apropriadas para uma guerra (Histórias, V, 11-12).
Att.
Boa noite!
ResponderExcluirMais uma dúvida Ana Beatriz:
Podemos entender que a divisão dos judeus em facções rivais foi um fator positivo e negativo, tanto para os judeus quanto para os romanos?
Pois de um ponto de vista positivo para os romanos quanto mais os rebeldes se dividissem, diminuiria a construção de uma resistência mais sólida e organizada. Já em uma perspectiva negativa, as legiões romanas tinham que dominar cada praça forte dos judeus, pois não havia como derrotá-los em uma única e decisiva batalha, como ocorreu no caso do cerco de Massada.
Pois mesmo com Jerusalém derrotada, os rebeldes existentes na Fortaleza de Massada continuaram a resistir. Sendo que essa situação exigiu mais esforço e um maior planejamento dos romanos para acabar de vez com a revolta na província.
Já em um ponto de vista positivo para os judeus essa divisão em facções facilitou as ações de guerrilha, a medida que diversos grupos de rebeldes conseguiam realizar vários ataques independentes contra os romanos em diversas partes da província, Utilizando métodos e táticas diferentes, acarretando em problemas para as forças romanas.
Porém essa mesma divisão entre grupos levava os judeus a lutarem entre e si e ao mesmo tempo com os romanos, causando um desgaste e enfraquecimento dos rebeldes e dos seus recursos. Desse modo, os romanos teriam uma maior chance de vitória, a medida que sua organização militar e logística era mais organizada.
Boa noite, José :)
ExcluirDe certa forma, essas são relações muito imbricadas. Entendo que a abrangência da guerra ao redor da região não seja um problema aos judeus em si. É preciso sempre considerar que este conflito durou significativos anos em grande parte pela organização da revolta. Vale também lembrar que os anos 68/69 foram marcados por conflitos civis dentro do Império, e quando retornam para terminar de submeter a Judeia o próprio Tito é direcionado por seu pai Vespasiano a liderar o exército, afinal a revolta estava durando mais do que o esperado e os romanos não estavam satisfeitos. Neste contexto, não sei se poderíamos afirmar até que ponto a divisão foi benéfica ou não. Respondi uma outra pergunta parecida abaixo e considerei que cabe pensar que a divisão entre as ditas "facções" em Jerusalém tenham enfraquecido em alguns momentos a resistência. Mas é certo que, Tácito apresenta que os líderes da revolta brigavam entre si, estando a cidade dividida em bandos; apesar disso, com a aproximação do exército romano, eles teriam se reconciliado (Histórias, V, 12).
Espero ter ajudado a pelo menos em parte responder os seus questionamentos. Novamente, obrigada pelo interesse.
Att.
Pergunta acima de José Raimundo Neto.
ResponderExcluirCiente!
ExcluirGostei muito do artigo e objeto de suas pesquisas.
ResponderExcluirPergunto se as questões de fundo e visão próprias do período histórico, elaboradas por Tácito, podem dialogar com os escritos de outros autores, em especial, Flávio Josefo, que escreveu no que diz respeito ao modo como se desenvolveu os fatos conturbados na História de Israel e Roma e a tentativa de conciliar esses dois mundos – judeu e romano.
Paulo Malta de Albuquerque Maranhão Junior
Olá Paulo,
ExcluirObrigada pelo interesse! :)
Com toda certeza é possível pensar essas narrativas em comparação! Inclusive, tenho pensado exatamente esta questão no mestrado; proponho a partir da análise das narrativas elaboradas por Cornélio Tácito (Histórias, V, 1-13) e Flávio Josefo (A Guerra dos Judeus) sobre a guerra Romano-Judaica do primeiro século, identificar a visão de cada autor acerca das identidades do judeu e do romano, destacando-lhes as especificidades e, entre as estratégias discursivas empregadas na construção de ambas as identidades em cada autor trabalhado, e como uma é utilizada de contraponto à outra.
Te convido a acompanhar o desenvolver deste trabalho!
Att.
Parabéns pelo trabalho Ana Beatriz, muito interessante.
ResponderExcluirUma dúvida, após a derrota em Jerusalém os judeus mantiveram a possibilidade de continuar professando sua fé religiosa e suas tradições?
Oi, Ana Paula
ExcluirMuito obrigada!!!
Sim, apesar das revoltas (lembrando que foram três: A primeira que é discutida neste artigo, uma segunda ocorrida sob o governo de Trajano entre 115 e 117 d.C., e a terceira entre os anos de 132 e 135 d.C) o judaísmo permaneceu sendo considerada religio licita dentro do Império. Este contexto só muda mais a frente, quando em Constantino o Cristianismo passa a ser a religião oficial do Império Romano, o que gradativamente influencia na aceitação do judaísmo.
Att.
Boa noite.
ResponderExcluirAdorei o texto!
Gostaria de saber até que ponto as facções judaicas foram benéficas para o Império Romano?
Obrigada.
Boa noite, Celimara. Obrigada! :)
ExcluirNo contexto da guerra, não sei se poderíamos afirmar até que ponto a divisão foi benéfica ou não. Cabe pensar que a divisão entre as ditas "facções" tenham enfraquecido em alguns momentos a resistência. Mas é certo que, a fonte aqui trabalhada apresenta que os líderes da revolta brigavam entre si, estando a cidade dividida em bandos; apesar disso, com a aproximação do exército romano, eles teriam se reconciliado (Histórias, V, 12).
Aproveito para lembrar que você indique seu nome completo abaixo para que seja contabilizada sua presença no evento.
Att.
Este comentário foi removido pelo autor.
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